Querida Uece, chegou o momento

26 de janeiro de 2023 - 18:36

 

“Minha querida Uece, chegou o momento, tchau”. Foi essa a frase que, “com aperto no coração”, o professor do curso de Pedagogia da Facedi, Augusto Cesar Porto da Silva, falou baixinho quando passou pelo portão do campus Itaperi, onde ele assinaria sua aposentadoria, no último dia 25 de janeiro, após 20 anos como docente da Universidade Estadual do Ceará (Uece). No mesmo dia, com sentimentos semelhantes, outros dois docentes também se despediam da instituição. Eram, o professor do curso de Filosofia, do Centro de Humanidades (CH), Alberto Dias Gadanha; e a professora de Pedagogia, do Centro de Educação (CED), Maria Margarete Sampaio de Carvalho Braga.

Três professores que levam muito da Uece, mas que também deixam muito de si, na universidade, em seus alunos e em todos com quem conviveram na instituição.

Professor Augusto Cesar, com equipe do Degep, Maria, Glaucia e Paulo Marcelo

Professor Augusto Cesar tem 69 anos. Entrou na Uece como professor substituto em 2002, e como professor efetivo, três anos depois. Lecionou nos campi de Fortaleza e de Quixadá, mas foi em Itapipoca que seu coração resolveu morar. “Gosto muito de Itapipoca, gosto muito dos meus alunos. É gratificante para mim”, destacou o docente que se orgulha em dizer que “fiz o concurso para a Uece e fiquei em 1º lugar na minha área, Sociologia, Movimentos Sociais, Educação Popular e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O docente, que foi também membro do Conselho Universitário da Uece, duas vezes vice-diretor da Facedi, coordenador do curso de Pedagogia/Facedi, professor de curso EaD, membro do Pronatec/Funece e coordenador de curso de formação para policiais, destaca alguns momentos que ficaram na memória. Entre eles:

“Quando eu terminava algumas aulas, cerca de 6 a 8 alunos me rodeavam e diziam: ‘professor, muito boa a sua aula’. Isso aí eu vou levar enquanto eu tiver vida. Isso é o reconhecimento dos alunos, que nem todo professor recebe”. E continuou – “fui dar aula na Academia de Polícia, dei aula de Direitos Humanos. No final, eles me cercaram e disseram, ‘professor, sua aula foi excelente’”, conta feliz, o professor Augusto César. Ele se despede da Uece com bons sentimentos. “A sensação é de dever cumprido. Vou sentir muita falta da Uece”.

Com o mesmo sentimento de dever cumprido, o professor Alberto Dias Gadanha também se despede da sala de aula. Ele, que foi aprovado em 2º lugar na área de Filosofia, no concurso para docente da instituição, em 1983, assinou sua aposentadoria aos 72 anos de idade, após quase 40 anos de serviços prestados à Uece.

Além de docente na graduação, Gadanha foi professor do Mestrado Acadêmico de Filosofia e, ainda, coordenador e vice-coordenador do curso de Filosofia/CH, durante 10 anos. Um grande marco em sua carreira foi quando atuou no Programa Integrado de Management (Primace), em parceria com a Universidade de Quebec (Canadá). “Nós treinamos cerca de 1.500 servidores públicos do Ceará. Conseguimos incluir no Programa de treinamento, importado do Canadá, um conjunto de temas sobre o que é ético no serviço público”, destacou o professor.

A última a assinar a aposentadoria nesta quarta-feira (25), no Degep, foi a professora Margarete Sampaio. Aos 61 anos de idade, 23 anos de Uece, ela pretende descansar, mas reconhece que “o Centro de Educação é muito instigante e é um agregador de professores aposentados atuantes”.

A docente ingressou na Uece como professora substituta e, dois anos depois, conquistou a efetivação. Entre 2013 e 2015, foi coordenadora do curso de Pedagogia/CED. “Tenho a grata alegria de dizer que nós elevamos os indicadores de conclusão de curso e os resultados no Enade”, destacou. Margarete foi professora do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (Maie/Uece), coordenadora do Núcleo Lato Sensu do CED, de curso de Especialização, de projetos de extensão e do Grupo de Estudo Pedagogia de Paulo Freire (GEPAF), time responsável pela organização do evento Legado Freireano.

“Fui uma das idealizadoras do Legado Freireano, em 2017… No lançamento, a gente lotou aquele auditório Central para reinventar o ciclo de cultura de Paulo Freire. Foram mais de 800 inscrições”, se orgulha a docente. Em 2015, foi homenageada pela Câmara Municipal de Fortaleza com a Medalha Paulo Freire. Atualmente, professora Margarete representa a Uece e o Ceará na Rede Freireana de Pesquisadores, constituída por 14 estados que pesquisam o pensamento, a expressão e a materialidade de Paulo Freire.

A docente também atuou no Programa de Acompanhamento Discente (Pradis). “Foi muito gratificante poder contribuir com o Pradis e com tantos estudantes… Uma aluna da Pedagogia, que é servidora da Uece, depois de 25 anos, colou grau, graças ao Pradis. Peguei na mão, ela terminou e ainda foi oradora da turma”, revela feliz. Esse é apenas o resumo de uma das muitas histórias e experiências contadas pela professora Margarete, que exala naturalmente sua paixão pelo ensino, pela Educação, pela Pedagogia e pela Uece.

Professora Margarete com o filho Marcelo (Pedagogo), a neta Alice e a diretora de divisão do Degep, Glaucia

Com os olhos marejados, ela conclui. “A Uece é minha segunda casa, é uma querida, uma instituição onde eu tive meu o jeito de ser, respeitado…. mas, na Pedagogia, a gente tem muito essa marca do esforço por fazer prevalecer não as vontades individuais, mas sim as vontades coletivas. E isso é algo que vou levar comigo. E, de mim, eu deixo delicadeza, amorosidade, respeito e um amor pela sala de aula extremado”.

A todos os professores e servidores da Uece, os agora professores aposentados deixam suas mensagens:

“Honrem essa casa, honrem a condição de servidor público. Façam valer a dignidade daquilo que é nosso cargo, nossa função, nossa condição social…. Vamos fazer bonito, com dignidade e com respeito” (Margarete Sampaio).

“Amem a Uece. Não preciso falar da questão do compromisso, da seriedade… isso já se espera de um bom professor… o amor à Uece vale a pena” (Augusto Cesar).

“Especificamente para os professores de Filosofia, digo que tenham fundamentação técnica. A Filosofia tem um fundamento, um conteúdo específico, que é necessário conhecer” (Alberto Gadanha).