Universidades mapeiam genes de gado girolando

18 de fevereiro de 2009 - 05:25

Parceria entre Universidade Norte do Paraná (Unopar) e Universidade Federal do Pará (UFPA) seleciona os primeiros 100 exemplares que terão seus genes mapeados

Mauro Zanatta escreve para o “Valor Econômico”:

Rústico, altamente produtivo e de fácil adaptação a climas adversos, o gado da raça girolando deve ganhar ainda mais condições de ajustar-se aos diversos microclimas do país.

Mistura de sangue da raça indiana gir com a europeia holandesa, o gene do gado leiteiro girolando será esquadrinhado por pesquisadores de duas universidades nacionais para aumentar sua capacidade de adaptação a situações climáticas extremas em todas as latitudes geográficas brasileiras. Em 2008, animais da raça foram responsáveis por 60% da produção nacional de 28 bilhões de litros de leite.

Uma parceria entre a instituição privada Universidade Norte do Paraná (Unopar) e a Universidade Federal do Pará (UFPA) começou a desvendar os registros de animais para selecionar os primeiros 100 exemplares que terão seus genes mapeados. “Vamos selecionar um lote de animais para pesquisar seus genes e multiplicá-los com a técnica da fecundação in vitro”, informa o veterinário e professor da Unopar Werner Okano, um dos coordenadores da pesquisa.

A investigação conjunta, cujo custo total está orçado em R$ 700 mil, tratará da adaptação do gado girolando a diversos graus de temperatura, umidade, formas de manejo e nível de produtividade.

“É uma pesquisa para 20 anos a 30 anos”, afirma Okano. Mas, segundo ele, em três anos os pesquisadores já devem ter o perfil dos animais mais adaptados desse primeiro lote. “Depois disso, vamos multiplicar novamente in vitro ou por clonagem”. Em dez anos, estima Okano, começarão a ser distribuídos os primeiros lotes de animais selecionados por todo o país.

As pesquisas serão conduzidas em conjunto com professores da UFPA na fazenda experimental da Unopar, situada em Tamarana (PR), a 76 km de Londrina. A Unopar cederá parte dos animais, materiais genéticos e as instalações e equipamentos do laboratório de fecundação in vitro. A UFPA cederá aparelhos sofisticados para análises moleculares.

“Também haverá uma parceria com criadores de gado de elite da região de Londrina”, diz Werner Okano. O projeto deve ser financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A primeira fase custará R$ 100 mil, avalia Okano.

O gado pode ter, no máximo, três quatros de sangue originário da raça gir, explica o pesquisador. A maioria do girolando está localizado em Minas Gerais. A cruza, feita no Brasil há 80 anos, só foi reconhecida como raça oficial pelo Ministério da Agricultura em 1989.

A produtividade média de leite do girolando, a terceira melhor entre as raças nacionais, está em 12 litros diários quando alimentado a pasto. Nesse modelo, o custo de produção soma R$ 0,30 litro/dia. No modelo de confinamento com alimentação a ração, a produtividade chega a 50 ou 60 litros diários, mas o custo sobe a R$ 0,90 por litro.
(Valor Econômico, 16/2)

Fonte: Jornal da Ciência 3703, 16 de fevereiro de 2009.