Universidade está pronta para colaborar com a indústria
3 de junho de 2009 - 07:26
Durante o workshop “Ciência para um Brasil competitivo”, realizado na terça-feira (26/5), na sede da SBPC, foram formadas comissões setoriais com o objetivo de identificar gargalos científicos na indústria química, farmacêutica e biotecnologia, tecnologia da informação e comunicação (TIC), eletro-eletrônica, máquinas e equipamentos, materiais e de alimentos
A universidade brasileira atingiu um nível de maturidade suficiente que lhe permite agora dar sua contribuição para o desenvolvimento industrial e tecnológico do País, avalia o professor Roberto Mendonça Faria, do Instituto de Física da USP de São Carlos, em São Paulo.
De acordo com o pesquisador, corroboram para essa constatação o aumento nos últimos anos da produção científica brasileira e do número de doutores no País, cujo contingente atual supera o estimado pelo Plano Nacional de Pós Graduação (PNPG), elaborado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), para o período de 2005 a 2010.
Porém, segundo Faria, ao contrário do que ocorre nos países desenvolvidos, onde a maior parte dos pesquisadores está fixada nas empresas, no Brasil eles se concentram nas universidades. E, se por um lado, o País vem ganhando maior projeção mundial em ciência, por outro seu nível de inovação ainda é inexpressivo na comparação com outros países.
“Isso demonstra que, apesar de já termos os ingredientes para o desenvolvimento industrial, deixamos a desejar em inovação”, acentua Faria ao apontar a necessidade de se corrigir a distorção na distribuição dos pesquisadores pelos setores acadêmico e industrial no Brasil. O pesquisador coordena o grupo de trabalho (GT) constituído pela SBPC para identificar os gargalos científicos que precisam ser solucionados para aumentar o nível de competitividade do setor industrial brasileiro.
Workshop – Um desses gargalos, apontado pelos participantes do workshop “Ciência para um Brasil competitivo”, realizado nesta terça-feira (26/5), na sede da SBPC, em São Paulo, é a qualificação dos recursos humanos. Na opinião dos representantes das associações industriais presentes no evento, o perfil dos profissionais formados pelas universidades brasileiras não atende as necessidades de segmentos como os de química e de softwares.
“Não existe uma universidade que ofereça curso de química no Brasil que tenha padrões de saúde, segurança e meio ambiente equivalentes aos seguidos pelas indústrias do setor. Elas não ensinam e não formam profissionais que saibam lidar com esses temas nas empresas”, diz Marcelo Kós Silveira Campos, diretor técnico de assuntos industriais da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
“Escutamos muito os empresários do nosso setor dizerem que têm que reformar os profissionais que chegam às suas empresas porque o currículo deles não caminha na mesma velocidade da tecnologia com que estão trabalhando. Há uma defasagem na formação”, reforça Ancelmo Gentile, diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes).
Mas para os representantes de 16 sociedades científicas que participaram do workshop, a questão da formação de recursos humanos deve tratada de maneira mais ampla. “As universidades devem oferecer formação básica e ensinar os graduandos a serem profissionais versáteis, porém como uma base de conhecimento muito sólida”, considera Roberto Faria. Para ele as universidades não têm capacidade de treinar pessoal para exercer atividades específicas, cabendo às empresas esse tipo de tarefa.
Documento – A formação de recursos humanos será tema de um dos capítulos de um documento que vai ser produzido pelo GT da SBPC com o objetivo de fornecer diretrizes para elaboração de políticas industriais e de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no Brasil.
Encomendado à SBPC pela Capes, ligada ao Ministério da Educação (MEC), o documento conterá também dados sobre o nível de competitividade de alguns segmentos industriais no Brasil, coletados com associações que os representam, convidadas pela SBPC para participar das reuniões do GT.
Durante o workshop foram formadas as comissões setoriais da indústria química, farmacêutica e biotecnologia, tecnologia da informação e comunicação (TIC), eletro-eletrônica, máquinas e equipamentos, materiais e de alimentos. As comissões terão a tarefa de levantar informações sobre esses setores e iniciar a produção do documento. A próxima reunião do grupo de trabalho está agendada para 29 de junho.
(Assessoria de Imprensa da SBPC)
Fonte: Jornal da Ciência 3771, 28 de maio de 2009.