Terapia com células-tronco tenta recuperar visão de portadores de retinose pigmentar

11 de agosto de 2009 - 07:44

A descoberta de células do organismo humano com capacidade de se multiplicar e de formar novas células especializadas tem trazido novas esperanças para portadores de doenças crônico-degenerativas para as quais não se dispõe de terapias eficazes. Nestes últimos anos, o uso de “células-tronco” em tratamentos medicinais tem sido muito debatido. Entretanto, não resta dúvidas de que seu potencial é enorme e de que a terapia celular com células tronco consiste em uma nova era da medicina, na qual proporciona não somente uma nova maneira de resgatar funcionalmente os órgãos, mas também repercute em uma maior longevidade dos seres humanos.

 

Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas nesta área, e uma dela é o tratamento com células-tronco que poderá recuperar a visão de portadores da retinose pigmentar, uma doença genética que causa degeneração da retina e perda gradual da visão provocando cegueira irreversível. No Brasil estima-se que existem aproximadamente 40 mil portadores desta doença.

 

Esta pesquisa vem sendo conduzida pelo médico e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e tecnológico (CNPq/MCT), Júlio César Voltarelli, em parceria com os oftalmologistas Rubens Siqueira, Rodrigo Jorge e André Messias, da Universidade de São Paulo (USP).

 

De acordo com o oftalmologista Rubens Siqueira, as células-tronco utilizadas nesta pesquisa são derivadas da medula óssea do próprio paciente, ou seja, um transplante autólogo, portanto sem o risco de rejeição.

 

Cinco voluntários que apresentavam menos de 10% de visão já receberam uma injeção de células tronco, implantadas na cavidade vítrea do globo ocular. “Estamos com grande esperança que esta terapia para doença degenerativa da retina dê certo. Existem duas possibilidades de sucesso: a primeira é a terapia impedir que a doença continue evoluindo evitando que o paciente caminhe para a cegueira. Se isto for possível já será um avanço considerável. A segunda possibilidade é de o tratamento resgatar funcionalmente a retina, ou seja, proporcionar uma melhora visual o que seria o ideal”, afirma Rubens.

 

O procedimento

A coleta é realizada pelo hematologista especializado em terapia celular e consiste na retirada de uma pequena quantidade da medula óssea do paciente, através de punção por agulha no osso da bacia. O material coletado do paciente é então processado no laboratório de terapia celular, para separação das células-tronco. Cerca de cinco horas após a punção, as células são injetadas no olho do paciente, com anestesia local. Não há necessidade de internação e caso o voluntário sinta muito desconforto, pode ser feito um curativo local.

 

Segundo Siqueira, atualmente responsável pela observação e segurança do procedimento nos pacientes voluntários, é importante ressaltar que se trata de um estudo experimental que visa avaliar a segurança. “Nesta primeira etapa, estamos estudando principalmente se até o momento nenhum paciente mostrou qualquer complicação e avaliando também o comportamento funcional da retina. Já observamos respostas positivas nos exames de campo visual e no eletrorretinograma, que é um exame no qual avalia o funcionamento da retina através de potenciais elétricos. Estes achados apesar de serem ainda discretos mostraram sinais de que estamos no caminho certo”, afirma o oftalmologista.

 

O acompanhamento ocorrerá mensalmente durante um ano. Se os exames mostrarem que estas células voltaram a funcionar, os resultados serão enviados ao Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), e o órgão decidirá se haverá ou não continuação da pesquisa.

 

“As pessoas interessadas neste tratamento estão muito esperançosas. Acreditamos que no próximo ano já teremos informações importantes provenientes destes resultados iniciais e de mais pacientes. A estimativa é que se tudo correr bem, entre 1 a 2 anos poderemos começar a propor como uma opção terapêutica”, afirma Siqueira.

 

O pesquisador afirmou ainda que caso haja sucesso nos resultados, será possível que o tratamento com células-tronco possa ser aplicado também no combate a outras doenças de fundo de olho, como a retinopatia diabética e a degeneração macular relacionada à idade.

 

 

Fonte: Assessoria de Comunicação Social do CNPq, 10 de agosto de 2009.