Temperatura sobe 700C em 6 horas em planeta extra-solar
10 de fevereiro de 2009 - 12:01
Imagens simulam dinâmica atmosférica do HD 80606b
Ricardo Bonalume Neto escreve para a “Folha de SP”:
Astrônomos nos EUA descobriram um comportamento tão bizarro de um planeta fora do Sistema Solar que o torna de longe o mais inóspito e inabitável já encontrado. Em apenas seis horas, a superfície do planeta HD 80606b passa de 525 C para 1.225 C -um aumento de 700 C. Os extremos de calor acontecem nos momentos em que passa perto da estrela em torno da qual ele gira.
O planeta foi observado através do telescópio espacial Spitzer, da Nasa, e seu comportamento está descrito na edição de hoje da revista científica “Nature” pela equipe de Gregory Laughlin, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. É a primeira observação de mudanças de clima de um planeta fora do sistema solar.
O HD 80606b tem uma massa quatro vezes maior que Júpiter, o maior planeta do sistema solar. Mas, ao contrário do frio Júpiter, ele é bem mais quente, com uma temperatura em geral em torno de 525 C.
A exceção é quando ele atinge o “periastro”, o ponto da órbita mais próximo da estrela. O planeta passa a receber um fluxo de radiação 828 vezes maior do que quando está no ponto mais distante -o “apoastro”.
No periastro, o HD 80606b fica dez vezes mais perto da estrela do que o quentíssimo Mercúrio fica do Sol. E a temperatura salta para cerca de 1.225 C, criando ondas de choque na superfície que os astrônomos puderam detectar.
Como se não fosse pouco para tornar o HD 80606b uma sucursal do inferno, ele gira de modo a sempre apresentar a mesma superfície para a estrela (assim como a Lua sempre mostra o mesmo lado para a Terra). Um lado termina torrado enquanto o outro fica mais frio.
O HD 80606b está localizado a 190 anos-luz da Terra, na constelação da Ursa Maior. Em 14 de fevereiro próximo ele estará entre a Terra e sua estrela, permitindo sua observação mesmo por telescópios de astrônomos amadores -o planeta apareceria como uma minúscula mancha negra ocultando a estrela.
(Folha de SP, 29/1)
Fonte: Jornal da Ciência 3691, 29 de janeiro de 2009.