Temor de cientistas se concretiza no Ártico

21 de agosto de 2009 - 06:53

Mais poderoso que o CO2, metano começa a ser liberado e pode agravar aquecimento
Um dos mais temidos efeitos do aquecimento global pode estar acontecendo no Ártico. Cientistas descobriram, pela primeira vez, sinais de que o metano, um dos mais poderosos gases do efeito estufa, aprisionado por milênios no fundo do Oceano Ártico pode estar descongelando e subindo à superfície.
 
A evidência vem na forma de bolhas, detectadas por um grupo internacional de pesquisadores. O fenômeno que pode contribuir enormemente para a intensificação do aquecimento global. O metano é vinte vezes mais potente que o CO2 para aprisionar calor na atmosfera.
 
Os cientistas encontraram vazamentos de metano quando faziam uma pesquisa na região de Spitsbergen, que pertence à Noruega.
 
Eles tentavam descobrir a quantidade de metano aprisionada no leito do Oceano Ártico que poderia ser liberada na atmosfera pelo aquecimento global.
 
O que descobriram, porém, foram evidências de que esse processo já está acontecendo, em hidratos de metano – formados por água e metano – armazenados no solo marinho. O estudo foi publicado na revista “Geophysical Research Letters”.
 
– Nosso objetivo era quantificar o metano que poderia ser liberado devido ao aquecimento dos oceanos – diz Tim Minshull, do Centro Nacional de Oceanografia, de Southampton, um dos participante do estudo.
 
– Não esperávamos encontrar evidências de que esse processo já estivesse ocorrendo.
 
Os cientistas temem que a liberação maciça desse metano gere um ciclo vicioso, no qual as altas temperaturas aumentariam o derretimento do solo, liberando mais metano, que aceleraria o processo de aquecimento.
 
No estudo, os pesquisadores ingleses e alemães detectaram, com a ajuda de sonares normalmente usados para identificar cardumes, a existência de mais de 250 fontes de bolhas de metano, em profundidades de até 400 metros.
 
Estudos anteriores indicavam que o hidrato de metano era estável em águas mais rasas, em torno de 360 metros.
 
Gás por enquanto está diluído no mar Segundo os pesquisadores, o aquecimento do mar naquela região foi de 1°C, ao longo dos últimos trinta anos, suficiente para causar a liberação do gás, ao quebrar essa estabilidade do hidrato de metano Os pesquisadores constataram que a maior parte desse metano está sendo dissolvido antes de chegar à superfície, não sendo liberado na atmosfera. Não chega a ser uma boa notícia: o metano dissolvido na água contribui para a acidificação dos oceanos. Mas eles alertam que é possível que um fluxo mais vigoroso possa atingir a atmosfera.
 
– Se esse processo se tornar generalizado, toneladas de metano poderão ser liberadas no oceano anualmente – diz Graham Westbrook, da Universidade de Birmingham, um dos autores do estudo.
(O Globo, 19/8)

 

fonte: Jornal da Ciência 3830, 19 de agosto de 2009.