Sopa marinha
24 de agosto de 2009 - 06:28
Temperatura dos oceanos bate recorde histórico e alarma cientistas
Os oceanos estão mais quentes agora do que em qualquer outro momento dos últimos 130 anos, quando a temperatura marinha começou a ser medida. Julho foi o mês de águas marinhas mais quente já registrado. A média das temperaturas das águas ficou em 17 graus Celsius, segundo o Centro de Dados Climáticos do governo americano, que mantém informações sobre clima mundial. E em agosto, poderão bater novo recorde.
Até agora, o mês mais quente para as águas oceânicas tinha sido julho de 1998, em razão de um intenso El Niño no Pacífico. A elevação da temperatura dos mares é considerada um sinal de mudanças climáticas associadas ao aquecimento global. E alarma cientistas porque contribuiria para aumentar ainda mais a temperatura do planeta, já que os mares são essenciais ao equilíbrio climático.
Climatologistas explicaram que há uma combinação de forças atuando: o início de um novo El Niño em meio ao recrudescimento do aquecimento global e ainda variações climáticas aleatórias. O aumento das temperaturas dos oceanos já ameaça os recifes de coral. Pode ainda agravar a situação do degelo do Oceano Ártico e intensificar furacões.
Água mais quente é combustível de furacões
No Golfo do México, onde águas mais quentes são combustível de furacões, a temperatura se mantém em torno dos 32 graus Celsius. A maior parte da água no Hemisfério Norte tem estado ligeiramente mais quente. O Mediterrâneo apresenta temperatura 3 graus Celsius acima da média. As águas mais quentes são a regra no Pacífico e no Índico.
O fenômeno é mais notável no Ártico, onde a temperatura das águas está 5,5 graus Celsius acima da média. Imensas línguas de água morna podem acelerar o derretimento do gelo marinho e até provocar o colapso de plataformas na Groenlândia, segundo Waleed Abdalati, diretor do Centro de Observação e Ciências da Terra da Universidade do Colorado.
O registro de recordes de aquecimento na água é um sinal mais preocupante do aquecimento global do que a mesma constatação em terra. A água, explicam os cientistas, leva mais tempo para se aquecer e não se resfria rapidamente como a terra.
– Esta água mais quente não vai desparecer no ano que vem, vai ficar por um longo tempo – explicou Andrew Weaver, da Universidade Victoria, no Canadá, especialista em clima.
É necessária cinco vezes mais energia para aquecer a água do que a terra.
– A água quente afeta o clima em terra – continuou Weaver. – E este é um indicativo importante da mudança que está em curso no planeta.
Para Judith Curry, especialista em ciências atmosféricas do Instituto de Tecnologia da Georgia, a água esquentou em mais regiões do que o normal, o que não era registrado há 50 anos. Os efeitos das águas mais quentes já se fazem sentir nos recifes de corais, afirma Mark Eakin, da Administração de Atmosfera e Oceanos dos EUA. A longo prazo, o calor excessivo torna os corais brancos e, algumas vezes, os mata. O embranquecimento dos corais já foi registrado em Florida Keys, Porto Rico e Ilhas Virgens.
Os problemas causados pelo padrão El Niño devem piorar, segundo os cientistas. A tendência é de aumento da temperatura em várias regiões, levando a uma elevação da média global.
(O Globo, 21/8)
fonte: Jornal da Ciência 3832, 21 de agosto de 2009.