Selo pegada de carbono já é usado por 30 empresas
29 de outubro de 2008 - 10:35
Aplicada no rótulo de produtos, marca identifica quanto de CO2 ou de outros gases-estufa foram emitidos na produção do artigo
Daniela Chiaretti escreve para o “Valor Econômico”:
A marca de um pezinho na embalagem do suco de laranja exposto na gôndola traz uma nova informação – 360 gramas de CO2. Ao lado, a explicação: aquela é a pegada de carbono para um copo de 250 ml de suco fresco e a fabricante, a Tesco, se compromete a diminuí-la.
Na prateleira do sabão em pó, nova informação cifrada – 810 gramas de CO2 por lavagem. Não que o dióxido de carbono, o mais famoso dos gases que provocam o aquecimento da Terra, seja também um poderoso alvejante. O que o rótulo indica é que na produção, no uso e no cálculo de descarte do produto será emitida aquela quantidade de gás-estufa na atmosfera.
No Reino Unido, onde desde 2007 lâmpadas, xampus e águas minerais têm aparecido com a pegada de carbono expressa na embalagem, consumir tem sido atividade cada vez mais complexa. Jefferson Dias/Valor
Vincent, da Carbon Trust: “Descobrimos que dois terços dos consumidores britânicos prefeririam produtos de baixo carbono, se tivessem essa informação”
Os rótulos com a pegada de carbono são dados pela Carbon Label Company, uma empresa da britânica Carbon Trust. Entre seus clientes estão a Tesco, a maior varejista do Reino Unido, a PepsiCo e a Coca Cola, a Kimberly-Clark, a Danone Waters (com a água mineral Evian), a Cadbury Schweppes e a British Sugar. Ao todo são 30 empresas, entre fabricantes de lâmpadas ou de ferros de passar, que buscam o selo para alguns de seus produtos.
“Fizemos uma pesquisa e descobrimos que dois terços dos consumidores britânicos prefeririam produtos de baixo carbono aos de alto, se tivessem essa informação”, diz David Vincent, diretor de projetos da Carbon Trust. “A partir daí desenvolvemos uma metodologia rigorosa”, continua o físico-químico, que esteve no Brasil na semana passada.
A empresa, até agora a única com um selo do gênero, busca certificação internacional na International Standards Organization, a ISO, e iniciou diálogo também com o World Resources Institute, o WRI, conhecido pelas pesquisas com energias alternativas.
O primeiro produto a aparecer com a pegada de carbono foi um salgadinho da Walkers, na Inglaterra. O tal selo identifica quanto de CO2 ou de outros gases-estufa foram emitidos na produção do artigo, desde o início da cadeia produtiva e em todo seu percurso até a prateleira da loja, passando pelo uso e com a perspectiva do descarte final. A empresa tem que se submeter à análise da Carbon Label e terá uma chancela por dois anos, prazo em que tem que reduzir emissões, para daí renovar o selo.
Alguns produtos, como o sabão em pó da Tesco, procuram também conseguir a cumplicidade do consumidor em casa, no esforço de reduzir emissões. “Lavando a 30ºC e não a 40ºC você deixa de emitir 160 gramas por lavagem”, sugere o rótulo. A empresa abriu um escritório em Pequim em setembro, planeja abrir em breve uma representação em Boston, nos EUA, e também analisa como ser mais ativa na França e na Alemanha.
O rótulo da pegada de carbono é a ponta mais pública da Carbon Trust, empresa híbrida com orçamento público e gestão privada, criada pelo governo britânico em 2000. O objetivo é pesquisar e estimular tecnologias rumo à economia de baixo carbono. O governo sustenta o orçamento de 105 milhões de libras ao ano (US$ 177,7 milhões), mas o conselho é independente e decide para onde vai o dinheiro. Um foco constante são tecnologias e sistemas que aumentem a eficiência energética e métodos que reduzam emissões.
Foi com este olhar que Vincent acaba de fazer um périplo pela América do Sul, visitando Argentina, Chile, Peru e Brasil. Aqui, a idéia era encontrar pesquisas de biocombustíveis de segunda geração, principalmente com base em algas.
Na Embrapa ainda não encontrou nada. Mas o Ministério da Ciência e Tecnologia e o da Pesca lançaram um edital para pesquisadores interessados nestes estudos. O Carbon Trust pretende apoiar esta linha de pesquisas.
“As mudanças climáticas têm que ser vistas como oportunidade de negócios e não só como um desafio ambiental”, diz Vincent. “Há agora um compreensível foco na urgência da crise financeira. Mas sabemos que os impactos das mudanças climáticas, se os níveis de CO2 continuarem crescendo serão devastadores ambientalmente, socialmente e economicamente.”
(Valor Econômico, 22/10)
Fonte: Jornal da Ciência 3625, 22 de outubro de 2008.