Programa de intercâmbio de doutorandos entre Brasil e Argentina carece de candidatos

5 de dezembro de 2008 - 09:47

Criado em 2007, Programa Colégio Doutoral recebeu apenas quatro inscrições; pesquisadores atribuem baixa procura a falhas de comunicação nas universidades e querem estimular doutorandos a pleitear a oportunidade em seus institutos

Marina Ramalho escreve de Porto Alegre para o “JC e-mail”:

O Programa Colégio Doutoral, lançado em 2007 por Brasil e Argentina, oferece bolsas sanduíche de intercâmbio de doutorandos entre os dois países sul-americanos. Embora o apoio inclua passagem aérea, mensalidade, seguro saúde e isenção de eventuais taxas de matrícula e de exames nas instituições anfitriãs, o programa recebeu apenas quatro inscrições desde sua criação: três brasileiras e uma argentina, das quais apenas três se concretizaram.

A carência de candidatos ao programa foi exposta na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), nesta quinta-feira, 27 de novembro, na 4ª reunião Ciência, Tecnologia e Sociedade, pela professora María Rosa Depetris, coordenadora geral de programas da Secretaria de Políticas Universitárias do Ministério de Educação argentino.

Os pesquisadores reunidos na mesa-redonda “Políticas Nacionais de Cooperação em Pós-graduação” atribuíram a baixa procura pelo programa a falhas de comunicação dentro das universidades. Eles próprios desconheciam essa modalidade de apoio e argumentaram que, em muitos casos, só tomam conhecimento de determinados programas quando o prazo de inscrição já está encerrado.

Segundo Íris Torriani, do Instituto de Física da Universidade de Campinas, um dos caminhos para se estimular o preenchimento dessas vagas é sensibilizar os doutorandos a que tomem a iniciativa de buscar seus orientadores para preencherem juntos a solicitação da Capes, já que a proposta deve ser feita institucionalmente.

“Assim, esses doutorandos não teriam que concorrer com os candidatos que pleiteiam bolsas sanduíche nos Estados Unidos e na Europa”, apontou Torriani, que destacou a importância das secretarias de pós-graduação dos institutos de pesquisa disseminarem as informações sobre o programa, já que esses órgãos têm acesso a centenas de alunos.

Cooperação Sul-Sul

A falta de hábito, entre os doutorandos, de buscar programas de cooperação com países vizinhos também pode explicar a baixa adesão ao programa. O problema foi vislumbrado pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, em editorial da edição de 20 anos da revista Ciencia Hoy, que será lançada nas próximas semanas.

“Os pesquisadores sul-americanos precisam se conhecer mais, se unir mais, e colaborar mais entre si. Muitos deles mantêm estreitas relações com pesquisadores de países desenvolvidos. Isso é muito útil. Agora é preciso fazer o mesmo entre nossos países. É preciso multiplicar o intercâmbio interno”, defende o ministro.

Sobre o programa

O programa Colégio Doutoral está estruturado em regime de co-orientação e co-tutela e é dirigido a doutorandos brasileiros e argentinos matriculados em instituições de ensino superior. No caso do Brasil, podem participar estudantes de programas de doutorado avaliados pela Capes com nota igual ou superior a 5. A bolsa inclui transporte, mensalidade de 4 mil pesos argentinos, seguro saúde e isenção de eventuais taxas de matrícula e de exames nas instituições anfitriãs na Argentina.

As áreas contempladas são as consideradas estratégicas pelos dois países: Agronomia, Ciências da Computação, Informática, Engenharia, Ciências Exatas e Naturais, Tecnologia de Alimentos e Astronomia. As bolsas podem durar entre 12 e 18 meses e as inscrições são feitas em fluxo contínuo.

Segundo María Rosa Depetris, há perspectivas do programa se estender futuramente a outros países do Mercosul e a possibilidade de titulação conjunta entre as universidades e o reconhecimento de créditos e títulos.

Também participou da mesa-redonda o pesquisador uruguaio Enrique Lessa, que apresentou o trabalho desenvolvido há 23 anos pelo Programa de Desenvolvimento das Ciências Básicas do Uruguai (Pedeciba). Cristina Arruti, presidente da Sociedade Uruguaia para o Progresso da Ciência e Tecnologia (Supcyt), coordenou a mesa.

Mais informações sobre o programa Colégio Doutoral podem ser encontradas nos links:
http://www.capes.gov.br/cooperacao-internacional/argentina/colegio-doutoral
http://www.me.gov.ar/spu/Noticias/Noticias_Universitarias_2007/noticias_octubre_2007___arg_bra.html

Dados sobre a reunião CTS estão disponíveis em: http://www.sbpcnet.org.br/eventos/cts4/

Fonte: Jornal da Ciência 3651, 28 de novembro de 2008.