Pílulas contra envelhecimento

21 de agosto de 2009 - 06:54

EUA começam os primeiros testes com seres humanos de drogas do gênero
Tem tudo para ser a mais definitiva das descobertas – como aproveitar todas as vantagens da dieta de restrição calórica, incluindo a menor incidência de doenças e o aumento da expectativa de vida, sem ter que comer menos. Apenas tome um remédio que “engana” o organismo, fazendo-o acreditar que está sendo submetido a tal dieta.
 
Parece bom demais para ser verdade e talvez seja mesmo. Ainda assim, tais drogas estão sendo testadas em seres humanos pela primeira vez. São pelo menos duas substâncias promissoras. Mesmo que não se mostrem eficazes, seu desenvolvimento representa uma nova esperança.
 
Ao que tudo indica, o envelhecimento não é algo imutável e o corpo dispõe de recursos que podem ser mobilizados para resistir a doenças e evitar as adversidades da idade avançada.
 
O entusiasmo entre os especialistas em envelhecimento atingiu seu ápice nos últimos anos, com a aparente convergência de duas importantes linhas de pesquisa da área: alterações em genes únicos e a dieta conhecida como restrição calórica.
 
Nesta dieta, animais alimentados de forma saudável, mas com 30% menos calorias do que num regime normal, viveram mais e apresentaram menos doenças do que os submetidos a uma dieta normal em experiências feitas com camundongos e macacos.
 
As pessoas costumam considerar praticamente impossível manter tal dieta a longo prazo e a pesquisa mantevese como uma curiosidade científica por décadas. Foi então anunciada a descoberta das alterações em um único gene, muitas delas responsáveis pela regulagem do crescimento corporal, do metabolismo energético e da reprodução. Aparentemente, tais mudanças apontam para o mesmo caminho bioquímico através do qual a redução calórica estende a expectativa de vida.
 
Se os especialistas conseguirem identificar tais caminhos, poderia ser possível desenvolver drogas capaz de ativá-los. Os principais candidatos são as drogas chamadas de ativadoras de sirtuína, capazes de copiar totalmente ou em parte os efeitos da restrição calórica. A principal delas é o resveratrol – substância presente de forma diluída na casca da uva e no vinho tinto.
 
O laboratório farmacêutico Sirtris, de Cambridge, está conduzindo testes clínicos com o resveratrol, em formulação especial, e de outras drogas que também ativam a sirtuína, mas que podem ser usada em doses bem baixas.
 
A formulação do resveratrol e uma das outras baseadas em outras químicas já passaram por testes de segurança e agora estão sendo testadas para diabetes e outras doenças.
 
A FDA (a agência de drogas e alimentos dos EUA) não aprova drogas capazes de retardar o envelhecimento porque não se trata de doença.
 
Os cientistas acreditam que a restrição calórica funciona com a ativação das sirtuínas e uma droga que atue da mesma forma poderia oferecer os mesmos benefícios.
 
– Os resultados dos compostos da Sirtris são promissores e serão submetidos para publicação nos próximos meses – afirmou David Sinclair, da Escola de Medicina de Harvard, um dos responsáveis pela descoberta dos ativadores de sirtuína.
 
O Instituto Nacional do Envelhecimento dos EUA estabeleceu um programa para testar substâncias em três laboratórios. Entre os agentes candidatos estão o extrato de chá verde além de dois compostos de resveratrol.
 
No mês passado, resultados promissores na luta contra o envelhecimento foram apresentados pelo antifúngico rapamicina. Testes com camundongos revelaram que a droga foi capaz de aumentar significativamente sua expectativa de vida, embora afetasse o sistema imunológico. (Nicholas Wade, do New York Times)
 
Composto é oferecido irregularmente
 
Desde que os cientistas descobriram, em 2003, que o resveratrol, um composto químico encontrado na casca das uvas e no vinho tinto, poderia estar ligado ao prolongamento da vida, várias suplementos alimentares foram lançados.
 
Depois que o resveratrol foi tópico de reportagens e debates nos programas “60 Minutos” e no “Oprah Winfrey Show”, a internet foi inundada por sites com alegações infundadas sobre supostos benefícios da substância para a saúde. Os sites usam ainda de forma irregular as imagens de várias celebridades para endossar as alegadas vantagens do produto.
 
Em resposta, várias dessas pessoas, entre elas Oprah, vieram a público denunciar a questão. David Sinclair, o cientista de Harvard responsável pela descoberta dos efeitos antienvelhecimento do composto, também já denunciou publicamente os sites e garantiu que não há dados científicos a embasar tais produtos.
 
Os resultados dos testes até agora se referem a animais e, não necessariamente, se aplicam em humanos. Além disso, ninguém sabe qual seria a dosagem. (Sarah Arnquist, do New York Times)
(O Globo, 19/8)

 

Fonte: Jornal da Ciência 3830, 19 de agosto de 2009.