Pesquisadores do BR e da AR querem incrementar cooperação para investigação sobre recurso marinhos

5 de dezembro de 2008 - 09:58

Na 4ª Reunião Ciência, Tecnologia e Sociedade, cientistas identificaram limitações dos estudos na área e fizeram sugestões de ações conjuntas

O ambiente oceanográfico da região do Atlântico Sul Ocidental – área compartilhada por Brasil, Uruguai e Argentina – é muito dinâmico e possui significativas variações espaço-temporais que não reconhecem fronteiras políticas. Por isso, o entendimento dos processos que ali operam deve ser fruto de um trabalho cooperativo. No entanto, recentes iniciativas de investigação conjunta, ainda que exitosas, são incipientes e precisam ser fortalecidas e aumentadas.

A conclusão foi exposta pelo grupo de trabalho “Recursos Marinhos” – reunido entre os dias 26 e 28 de novembro, na 4º encontro Ciência, Tecnologia e Sociedade, em Porto Alegre –, que contou com a participação de representantes do Brasil e da Argentina.

Eles revelaram que os exemplos de cooperação efetiva e sustentada no tempo são escassos, assim como são limitados os trabalhos conjuntos entre grupos de investigação brasileiros, argentinos e uruguaios.

“Na prática, poucas vezes se encontraram as condições apropriadas para implementar a cooperação. As dificuldades e os entraves burocráticos são numerosos e, com freqüência, agem como um desestímulo. O grupo de trabalho considerou que deve ser realizado um esforço significativo, não retórico, para desenvolver o forte potencial de cooperação que existe nos nossos países e para conscientizar os entes governamentais sobre os inúmeros questionamentos que somente encontrarão resposta num trabalho regionalizado”, manifestou o grupo em um documento elaborado em conjunto.

As ações sugeridas pelos pesquisadores são:

– Identificar, categorizar e consolidar os laços já existentes dispondo de mecanismos que permitam, de forma ágil, o financiamento das iniciativas de cooperação.

– Fomentar ações cooperativas de investigação.

– Fortalecer o funcionamento de redes de investigação e de capacitação de recursos humanos, promovendo grupos de investigação interdisciplinares entre os países membros.

– Reproduzir na Argentina e no Uruguai programas como o Prosul (Brasil).

– Incrementar a possibilidade do uso – por toda a comunidade científica – de embarcações de investigação oceanográfica e pesqueira dos países integrantes.

– Favorecer os estudos de viabilidade para o estabelecimento de Áreas Marinhas Protegidas (AMP) como instrumento para a conservação da biodiversidade e sustentabilidade dos recursos biológicos.

– A densidade demográfica nas áreas costeiras e nas bacias hidrográficas que nelas desembocam possui impactos profundos e duradouros sobre o meio marinho. Por isso, é importante melhorar o conhecimento das fontes de contaminação aquática, estudar as transformações que sofrem os contaminantes no ambiente, avaliar sua disponibilidade e seus efeitos sobre a biota. É importante que seja dada atenção especial às operações portuárias para minimizar seus impactos ambientais.

– Os países do Atlântico Sul Ocidental dispõem de recursos pesqueiros de grande importância econômica e social. Sem dúvida, os esforços na geração do conhecimento científico de primeiro nível nem sempre se transformaram numa gestão sustentável. Muitas das espécies da região apresentam uma distribuição geográfica que inclui o sul do Brasil, Uruguai e Argentina. A fim de otimizar a gestão destes recursos, propõe-se o incremento da cooperação científica, o intercâmbio de informações e a criação de grupos de trabalhos consultivos permanentes.

– Em geral, as propostas de investigação devem contemplar a formação e capacitação de recursos humanos. Por exemplo, a formação de profissionais que dominem as modernas técnicas de taxonomia para estudos da biodiversidade. Com essa finalidade, deve-se fortalecer o papel e o uso das coleções taxonômicas e instruir as autoridades correspondentes sobre o valor e a utilidade das mesmas.

– Programas como o PEC (Programa Estudante Convênio) e similares deveriam possuir ferramentas análogas na Argentina. Deve-se propor o reconhecimento de créditos de matérias cursadas em instituições brasileiras, uruguaias e argentinas e otimizar o aproveitamento da capacidade acadêmica e física de nossos países para colocar o aluno em outras realidades ambientais e sociais.

– Nos últimos anos tem-se observado um aumento na lista de espécies introduzidas nos ambientes naturais costeiros dos países do Atlântico Sul Ocidental. Por isso, recomenda-se realizar estudos sobre as vias de ingresso e controlar a introdução de espécies estrangeiras nesses ambientes.

– As ciências sociais devem, também, ser consideradas na gestão dos recursos marinhos. São desejáveis uma interação mais eficiente com a sociedade, o aprofundamento dos esforços de divulgação e a melhoraria na percepção da comunidade científica sobre as necessidades da sociedade.

– Melhorar a transferência do conhecimento, enfatizando o papel da educação e a capacitação dos gestores na administração pública e no âmbito dos legisladores.

– O caráter eminentemente multi e interdisciplinar das Ciências do Mar torna imprescindível que as agências do governo institucionalizem um meio apto para viabilizar a discussão, formulação e execução dos planos de ciência e tecnologia. Recomenda-se que exista em cada país uma Comissão de Ciências do Mar, onde sejam elaborados os planos nacionais de investigação marinha; que os países da região usem de recursos compatíveis com as suas realidades; e que os países assumam representação nas comissões internacionais, tais como a Comissão Intergovernamental Oceanográfica (COI-Unesco).

– Apoiar os esforços de resgate, compilação e harmonização de dados pré-existentes. Detectar e identificar lacunas temáticas para otimizar amostragens e investigações.

– Estimular estudos cooperativos sobre a dinâmica costeira, oceanográfica e meteorológica de meso e macro escala no Oceano Atlântico Sul Ocidental.

– Solicitar aos órgãos responsáveis pela política de Ciência e Tecnologia da Argentina, Brasil e Uruguai o reconhecimento oficial de um programa regional sob o título “Sustentatilidade e Vulnerabilidade dos Ambientes Marinhos e Costeiros”, mediante o qual haja apoio econômico na apresentação de projetos conjuntos com participação de grupos de investigação dos países nomeados.

Participaram do grupo de trabalho os seguintes pesquisadores: Renato David Ghisolfi (Ufes, Brasil); Jarbas Bonetti Filho (UFSC, Brasil); Victória Isaac (UFPA, Brasil); Marcelo Scelzo (Conicet, Argentina, Coordenador por parte da Argentina); José L. Esteves (Cenpat-Conicet, Argentina); Jorge López (UBA-Conicet, Argentina); Jorge Hansen (Inidep, Argentina); e Pablo Penchaszadeh (Conicet, Argentina).
(Marina Ramalho)

Fonte: Jornal da Ciência 3653, 2 de dezembro de 2008.