Pesquisadores brasileiros testam terapia que produz novos vasos sanguíneos

11 de setembro de 2008 - 10:19

O primeiro ensaio clínico destinado a testar terapia gênica para produzir novos vasos sanguíneos em substituição aos que são obstruídos nas isquemias cardíacas vai se realizar no Rio Grande do Sul

O experimento faz parte da Rede de Terapia Gênica do Programa Institutos do Milênio do CNPq/MCT, coordenada por Rafael Linden, chefe do Laboratório de Neurogênese, do Instituto de Biofísica da UFRJ.

O ensaio será realizado sob a coordenação do professor Renato Kalil, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, da Fundação Universitária de Cardiologia, em parceria com a empresa privada, Excellion, responsável pela produção do vetor a ser utilizado no ensaio clínico.

A Rede de Terapia Gênica, criada em 2004, interliga 14 grupos de pesquisa dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, financiados pelo Institutos do Milênio do CNPq/MCT. A partir da criação, os estudos avançaram, em parte já publicados, e patentes já estão sendo depositadas como resultado do trabalho.

Mais de 1.300 ensaios clínicos de procedimentos de terapia gênica no mundo já foram iniciados. “É importante entender que, em todos os casos, esta forma de terapia ainda é experimental. No Brasil dedica-se a pesquisas para desenvolver veículos para introdução de genes com efeito terapêutico, bem como estudos experimentais, em animais de laboratório, dos efeitos de terapia gênica em câncer e doenças graves do metabolismo, doenças degenerativas e cardiovasculares, vacinas de DNA profiláticas para doenças infecciosas e vacinas de DNA terapêuticas para HPV”, afirma o coordenador da Rede, Rafael Linden.

Patentes – O desenvolvimento das aplicações da terapia gênica envolve patentes e sua transferência do exterior para o Brasil significa custo elevado. Mas os projetos desenvolvidos no Brasil são originais e competitivos em seus nichos específicos. A estratégia da rede contempla, ainda, para os próximos anos, interação com o setor de nanotecnologia.

A pesquisa experimental exige investimentos relativamente elevados. O apoio financeiro do CNPq propiciou a montagem de núcleos de produção de vetores para experimentação, equipagem de laboratórios e custeio dos projetos e a formação de recursos humanos, embora ainda em número reduzido para as necessidades da área. Em sintonia com a atividade nos laboratórios, algumas iniciativas no campo de divulgação científica começam também a ser contempladas.

“Trabalhamos não apenas com a perspectiva de contribuições científicas originais a um esforço mundial de combate a muitas doenças ainda hoje incuráveis, mas também com a possibilidade de produção de patentes efetivas na área, com benefício para a interação da academia com o setor produtivo. Um aspecto preocupante é que a passagem da pesquisa básica e pré-clínica para a pesquisa clínica em terapia gênica envolve, necessariamente, a participação de empresas privadas pelo volume de recursos. E com exceção de uma empresa nacional com missão nesta área, apenas empresas estrangeiras têm participação em estudos de terapia gênica”, disse Linden

Terapia – A terapia gênica procura introduzir um ou mais genes sadios em um organismo para combater uma doença, geralmente incurável. Algumas destas doenças são causadas pela mutação de um único gene que, por esta razão, torna-se inativo ou disfuncional. Nesse caso, o objetivo é introduzir cópias do gene sadio para restaurar a função perdida.

Introduzir gene que comande a produção de uma proteína com efeito terapêutico é outra forma da terapia, assim como a produção de um tipo de vacina, denominada vacina de DNA. O gene introduzido codifica uma proteína destinada a imunização. Secretados na corrente sanguínea, anticorpos contra esta proteína podem, por exemplo, combater o câncer em lugares distantes no corpo, incluindo as metástases.

A rede – A Rede de Terapia Genética envolve, no Rio de Janeiro, o Instituto de Biofísica da UFRJ, o Instituto Oswaldo Cruz e o Instituto Nacional do Câncer (Inca); em São Paulo, os Departamentos de Microbiologia e Biologia Celular e Desenvolvimento da USP, o Cintergen da Unifesp, o InCor e o Instituto Butantã; no Rio Grande do Sul os Departamentos de Genética e de Biofísica e o Hospital de Clínicas da UFRGS, bem como o Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, no qual será iniciado o ensaio clínico.

Rafael Linden é autor do livro de divulgação científica recém-lançado Genes contra doenças – Terapia Gênica, uma nova era na genética. Ele assinala progressos em outras pesquisas em vários países com resultados preliminares promissores como o desenvolvimento de abordagens para combater o câncer, síndromes de imunodeficiência e atuar no tratamento de doenças degenerativas.
(Assessoria de Comunicação do CNPq)

Fonte: Jornal da Ciência 3592, 05 de setembro de 2008.