Pau-brasil tem composto contra Alzheimer
5 de fevereiro de 2010 - 05:55
Pesquisadores brasileiros descobrem nas sementes da árvore proteínas com ação terapêutica
Nas sementes do pau-brasil pode estar o futuro para a sobrevivência e o desenvolvimento sustentável de uma espécie que vem sendo explorada há séculos, praticamente desde que o país ao qual empresta o nome foi descoberto.
Nas sementes da planta, que ainda está ameaçada de extinção, existem proteínas com propriedades antiinflamatórias e anticoagulantes. Elas vêm sendo estudadas, com possibilidade de que possam, em breve, ser usadas no tratamento de doenças como a psoríase (inflamação na pele) e o mal de Alzheimer.
– No caso do mal de Alzheimer, ainda estamos num estágio inicial, mas bastante promissor – afirma a pesquisadora Mariana da Silva Araújo, do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
– É que uma dessas proteínas, chamada de CeKI, já provou ser capaz de inibir a produção de enzimas, como a calicreína, envolvidas com o mal de Alzheimer. É nisso que estamos trabalhando atualmente.
Como ressalta a pesquisadora, há muitos anos têm sido descritos os usos medicinais das folhas, da casca e madeira do pau-brasil (Caesalpinia echinata). O trabalho com as sementes, porém, é relativamente recente (desde 2000) e é feito unicamente pelo grupo da Unifesp.
Ação contra veneno de peixe e edema pulmonar
As primeiras etapas das pesquisas envolveram testes com a proteína CeKI, que revelou ser capaz de inibir a ação de enzimas que participam dos processos de coagulação do sangue.
– Os testes mostraram que ela causava significante prolongamento do tempo de coagulação – conta a pesquisadora. – Ela também revelou ser eficiente ao restituir condições normais à pele de camundongos afetados pela psoríase.
A proteína também demonstrou ser útil para conter a dor e a inflamação causadas pelo veneno de um peixe, o niquim, comum no Nordeste.
– Os acidentes causados pelo veneno desse peixe são caracterizados por edema, dor intensa e necrose no local da ferroada. E mais uma vez, a CeKI respondeu bem, atuando como antiinflamatório, diminuindo a ação do veneno.
Boa parte desses estudos foram relatados no livro “Pau-brasil, da semente à madeira”, de Rita de Cássia Figueiredo Ribeiro e colaboradores, publicado pelo Instituto de Botânica de São Paulo em 2008.
– O conhecimento cientifico em torno do pau-brasil tem muitas lacunas, que aos poucos vão sendo preenchidas, como é o caso dessas pesquisas com suas sementes – diz Yuri Tavares Rocha, do Departamento de Geografia da USP, colaborador do livro.
Recentemente, outra proteína extraída das sementes do pau-brasil, chamada de CeEI, mostrou-se eficiente na diminuição de edemas em pulmões de cobaias.
– Essa proteína é inibidora de uma enzima chamada elastase, cujo excesso pode ocasionar a síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA), uma doença caracterizada por uma grave insuficiência respiratória – diz Mariana.
O melhor é que os estudos se desenvolvem sem que seja necessário cortar uma árvore sequer de pau-brasil. É que o gene de uma dessas proteínas (CeEI) já foi clonado pelo grupo de pesquisadores.
– Com isso, podemos realizar as pesquisas sem a necessidade de usar as sementes originais – afirma Mariana.
Mas como lembra Yuri, apesar desses avanços, a ameaça de extinção ainda paira sobre o pau-brasil.
– Trata-se de uma espécie cujo estado de conservação ainda é precário. E infelizmente não há uma política nacional de preservação do pau-brasil.
(Carlos Albuquerque)
(O Globo, 7/1)
Fonte: Jornal da Ciências 3924, 07 de janeiro de 2010.