Ovário artificial funciona
18 de maio de 2009 - 04:30
Órgão consegue amadurecer óvulos fora do corpo e é esperança para concepção
Um ovário humano cultivado em laboratório a partir de frações de tecido ovariano foi capaz de fazer com que um óvulo imaturo se tornasse apto a ser fertilizado. O avanço oferece uma esperança para as mulheres que querem ser mães e tiveram o órgão destruído.
O tratamento para o câncer é um dos mais agressivos para os ovários e o desenvolvimento de um órgão artificial ofereceria às mulheres que se submeteram a essas terapias mais chances de concepção.
Atualmente, as únicas coisas que podem ser feitas nesses casos são a extração e o congelamento dos óvulos antes do início do tratamento ou optar pelo transplante de tecido ovariano, um método ainda experimental.
Entretanto, se houver a possibilidade de amadurecer óvulos fora do corpo, muitos óvulos imaturos poderiam ser estocados para amadurecimento posterior. O avanço poderia ainda ser crucial para a pesquisa. Cientistas poderão testar, por exemplo, o efeito de toxinas ou outras substâncias no amadurecimento dos óvulos.
Para criar o ovário artificial, Sandra Carson e Stephan Krotz, do Hospital de Mulheres e Crianças de Providence, em Rhode Island, usaram células que formam a parte externa do folículo que recobre o óvulo. Eles obtiveram as células de ovários removidos de mulheres jovens por outras razões.
De um outro grupo de mulheres que se submetiam a tratamento de fertilização, os cientistas extraíram células presentes no fluido que envolve os óvulos. Estas células são responsáveis pela produção do hormônio estradiol, que auxilia na maturação dos óvulos. Num molde feito de gel em formato de colmeia foram acomodadas as células.
Um óvulo humano ainda imaturo foi então colocado no molde, juntamente com o hormônio estimulante, que ajuda no desenvolvimento dos óvulos mas não é produzido nos ovários.
Após 72 horas, o óvulo alcançou o amadurecimento necessário para ser fecundado. Neste ponto, o óvulo apresenta o chamado corpo polar — uma estrutura que só é produzida num óvulo maduro.
O estudo foi apresentado no último dia 2, no encontro da Sociedade de Fertilização da Nova Inglaterra, em New Hampshire.
O próximo passo será testar se o ovário artificial seria capaz de amadurecer óvulos ainda mais jovens, também chamados de células primordiais, que as mulheres possuem aos milhares.
— Nosso objetivo é pegar óvulos muito imaturos e conseguir amadurecê-los — afirmou Carson.
Krotz acredita que o processo levaria dez dias, em oposição aos 280 que o organismo feminino necessita para tal amadurecimento.
De acordo com os cientistas, os óvulos amadurecem mais rapidamente fora do corpo, provavelmente porque o ovário artificial não apresenta fatores produzidos normalmente pelo corpo e que inibem o amadurecimento.
(O Globo, 8/5)
Fonte: Jornal da Ciência 3757, 08 de maio de 2009.