Molécula pode indicar se câncer de próstata é grave

17 de fevereiro de 2009 - 04:12

Cientistas apontam que identificação de substâncias produzidas por células tumorais evitará cirurgias e radioterapias desnecessárias

Um simples exame de urina poderá ajudar, no futuro, a identificar quando um câncer de próstata é agressivo e traz consigo risco de vida. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, identificou um conjunto de moléculas produzidas por processos bioquímicos nas células tumorais que denunciam a natureza da doença. O trabalho foi publicado hoje na revista Nature.

Muitas vezes o câncer de próstata não evolui para formas fatais. Mas os métodos atuais de diagnóstico ainda são imprecisos para determinar a gravidade da doença. “Algumas pessoas podem passar por cirurgias ou radioterapias sem necessidade”, explica o urologista Fernando de Almeida, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Por isso é tão importante a descoberta de marcadores que revelem quando tratamentos agressivos são necessários.”

Os cientistas estudaram 262 amostras clínicas – de sangue, urina e biópsias – obtidas de três grupos de pessoas: saudáveis, com câncer localizado e com metástase. No material coletado, investigaram a presença de 1.126 moléculas, conhecidas como metabólitos. Descobriram que 87 substâncias estão presentes apenas em tecidos cancerosos. Há também seis moléculas que distinguem os tumores mais agressivos.

Uma delas – o aminoácido sarcosina – mereceu especial atenção. Detectável na urina, pode indicar a severidade da doença. “Homens com câncer de próstata agressivo apresentam níveis mais altos deste aminoácido na urina quando comparados a homens com câncer indolente”, afirma John Wei, coautor do trabalho.

Cerca de 79% das amostras retiradas de indivíduos com tumores agressivos apresentaram níveis altos da substância. Ela também foi identificada em 42% das amostras de pessoas com câncer localizado. No material coletado de indivíduos saudáveis, não houve registro da sarcosina.

Para Gustavo Carvalhal, coordenador do departamento de uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia, o trabalho abre uma perspectiva animadora. “Estudos como esse podem demorar, no mínimo, de três a cinco anos, para chegarem aos consultórios”, ressalva Carvalhal.

O urologista da USP Miguel Srougi concorda. “Precisa ser repetido em outros lugares para que os resultados sejam comprovados”, aponta. Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), houve 49 mil novos casos de câncer de próstata no Brasil em 2008. (Alexandre Gonçalves, com Reuters)
(O Estado de SP, 12/2)

PSA é melhor indicador

Médicos brasileiros estão céticos em relação ao novo marcador para câncer de próstata. O urologista Ronaldo Damião, do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Uerj) e da Santa Casa, diz que o PSA ainda é o marcador mais importante para a detecção e o acompanhamento de pacientes com câncer de próstata.

— Se todos os tumores, de qualquer parte do corpo, tivessem um marcador tão importante como o PSA, com certeza teríamos diagnósticos mais precoces e controles mais precisos.

Mesmo assim ele reconhece que o PSA tem falhas.

— Em alguns países, o nível normal do PSA é de 2,5. No Brasil é de 4. Se fôssemos fazer biópsia em todos que tivessem PSA entre 2,5 e 4 teríamos que examinar 85% desnecessariamente. E vamos encontrar só 10% a 15% de câncer. Há casos de câncer e PSA muito baixo.

Gustavo Carvalhal, coordenador da área de câncer da Sociedade Brasileira de Urologia, diz que outros marcadores foram pesquisados e nem sempre funcionam.

— Muitos deles não se confirmam na prática clínica. É preciso esperar novas pesquisas para ter certeza. (Antônio Marinho)
(O Globo, 12/2)

Fonte: Jornal da Ciência 3701, 12 de fevereiro de 2009.