Meio Ambiente: Vigia do oceano

16 de dezembro de 2009 - 06:45

Parceria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais com a Petrobras resulta na Estação de Sensoriamento Remoto Marinho, capaz de monitorar, por meio de imagens de satélite, uma área da costa que se estende da Paraíba à Argentina
Gisela Cabral escreve para o “Correio Braziliense”:
 
Como monitorar uma área do oceano de centenas de milhares de quilômetros quadrados, verificando em tempo quase real se há vazamentos de óleo ou outros tipos de problema? A resposta a essa trabalhosa tarefa está em uma parceria recentemente firmada entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Petrobras.
 
O resultado da união é a Estação de Sensoriamento Remoto Marinho, a primeira do tipo no país, ligada à Rede Temática de Monitoramento Ambiental Marinho.
 
Os equipamentos da estação, entre eles uma antena que capta imagens do satélite europeu Environment (Envisat), têm auxiliado a Petrobras no controle de poluentes na superfície do mar, além de fornecer dados sobre eventos meteorológicos, como a chegada de frentes oceânicas ou variações repentinas na temperatura da água e na altura das ondas.
 
Atualmente, a empresa é responsável pelo controle sistemático de uma área de 300 mil quilômetros quadrados. A intenção, segundo Cristina Bentz, uma das responsáveis pelo projeto na Petrobras, é aumentar ainda mais essa área de abrangência. “A disponibilização de imagens passou a ser feita num espaço menor de tempo e a custos mais acessíveis, ao contrário de quando as imagens eram adquiridas no exterior”, afirma.
 
De acordo com ela, a estação do Inpe disponibiliza dados num período de até uma hora depois da aquisição das fotografias do satélite. “Anteriormente, o melhor tempo era de quatro a seis horas”, completa, lembrando que, atualmente, a empresa recebe um total de 30 imagens por mês, provenientes da costa sudeste, sendo que fatores como localização, dia e horário variam conforme as órbitas do satélite.
 
Controle
 
Monitoramentos desse tipo se tornaram possíveis no fim da década de 1970, com o surgimento dos satélites voltados para aplicações marinhas. “São equipamentos com capacidade para identificar aspectos como a poluição no mar e as correntes marinhas”, explica João Vianei, coordenador-geral de Observação da Terra do Inpe.
 
Ele diz que a estação brasileira está localizada em Cachoeira Paulista (SP) por ser um município localizado próximo à divisa dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. O posicionamento garante uma abrangência maior do oceano. Hoje, é possível fazer a cobertura de uma área da costa que vai de João Pessoa a Mar del Plata, na Argentina.
 
Para Vianei, a responsabilidade ambiental da estação, ao emitir imagens para a Petrobras, é muito grande. “Principalmente em relação ao monitoramento das principais bacias – as de Campos, de Santos e do Espírito Santo -, responsáveis pela produção de uma grande quantidade de óleo”, enfatiza. Outro ganho é econômico. “Antes da estação, a Petrobras comprava imagens processadas na Argentina. Cada uma chegava a custar US$ 2 mil”, informa.
 
Além de registrar imagens perfeitas, mesmo no período noturno, o Envisat também pode enxergar através das nuvens. O equipamento, segundo Vianei, capta imagens em excelente resolução, sendo que o produto final se assemelha bastante a uma fotografia em preto e branco. Inicialmente, foi feito um contrato de dois anos com a Estação Espacial Europeia.
 
O Inpe mantém ainda uma outra estação em Cuiabá, criada especialmente para processar imagens do satélite americano Landsat. Como a estação fica no centro geométrico da América do Sul, ela consegue cobrir uma área que vai da metade da Guiana Francesa até parte da Argentina, abrangendo porções consideráveis de países como Chile, Bolívia e Peru.
 
As imagens também são disponibilizadas com rapidez, dependendo da demanda. O material serve para diversos tipos de trabalho, entre eles o controle de desmatamento, agricultura e atualização de mapas.
(Correio Braziliense, 17/10)

 

Fonte: Jornal da Ciência 3871, 19 de outubro de 2009.