Marte: esculpido pela água

28 de maio de 2009 - 04:14

Dados do robô Opportunity em cratera marciana revelam passado oceânico do planeta

Roberta Jansen escreve para “O Globo”:

Ao longo de milhares de anos a água foi a principal responsável pelas alterações no relevo de uma vasta região de Marte, como revela um estudo publicado pela “Science” com a participação do cientista brasileiro Paulo de Souza, integrante da missão da Nasa Mars Explorer Rover, que há cinco anos mantém dois robôs explorando a superfície do planeta vermelho.

O estudo é baseado em dados enviados à Terra pelo veículo explorador Opportunity, que, ao longo de dois anos, percorreu a cratera Victória, de 750 metros de diâmetro e 75 metros de profundidade.

Formada pelo impacto de um meteoro no solo, a cratera deixou expostas várias partes do subsolo marciano, revelando rochas e os efeitos da água e também do vento em sua formação.

— O que nos levou à cratera Victória foi a camada exposta de rochas — afirmou Steve Squyres, principal autor do estudo e responsável pelas operações dos robôs gêmeos.

Hematitas azuis no planeta vermelho

A existência de água no passado de Marte já havia sido confirmada pelos robôs Opportunity e Spirit. Mas esta é a primeira vez que são revelados dados concretos sobre sua influência na formação do relevo.

Com os instrumentos de seu braço robótico, o Opportunity analisou a composição e a textura de rochas da cratera.

As informações geradas revelaram a presença maciça de esferas de hematita que só se formam na presença de água. Na Terra, elas são comumente encontradas no fundo de oceanos e no leito de rios que secaram.

— Teve bastante água em Marte, muita, muita água. E tudo indica que não foi apenas em pontos localizados — afirmou Paulo de Souza. — Achamos nessa cratera o mesmo tipo de esferas de rochas que encontramos anteriormente em outros pontos. São hematitas, esferas azuis que se formam na presença de água. Constatamos ainda que elas são maiores no fundo da cratera do que nas bordas, o que é consistente com a idéia de que houve um grande oceano naquela região que foi evaporando e ficando seco até sumir completamente, fazendo as hematitas irem diminuindo de tamanho.

A análise dos dados e a observação das imagens enviadas também ajudou a determinar que o vento provocou o acúmulo de areia em forma de dunas que, na presença da água se transformaram em grandes pedras de arenito.

— Todas as camadas são formadas por depósitos de areia — contou Souza. — Em praias, estuários, na própria Baía de Guanabara, dá para ver essa mesma estrutura, formada pelos processos eólicos.

O Opportunity abandonou a área de exploração há oito meses e, desde então, se desloca para uma outra cratera, a Endeavour, vinte vezes maior do que a Victória.

Inicialmente projetada para durar três meses, a missão dos robôs foi estendida até 2011, quando está prevista a chegada ao planeta da Mars Science Laboratory.

Novos satélites para a Lua

O retorno da Nasa à Lua ganha um forte impulso em junho, com o lançamento de dois satélites que enviarão dados atualizados à Terra. Ontem, a agência revelou detalhes das missões Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) e Lunar Crater Observation (LCO). Os dois veículos serão lançados juntos, no próximo dia 17, a bordo de um foguete Atlas.

Com sete instrumentos a bordo, o LRO ajudará na identificação de um lugar seguro para o pouso de uma futura missão com astronautas. O satélite também caracterizará a radiação do ambiente e testará novas tecnologias. As informações ajudarão a gerar novos mapas tridimensionais da superfície, bem mais acurados que os atuais.

Já o LCR buscará uma resposta definitiva sobre a presença de gelo nos pólos lunares. O satélite usará de forma inédita o segundo estágio do foguete Atlas para provocar dois impactos na superfície lunar. Os cientistas esperam detectar cristais de gelo ao observar a nuvem levantada pelas explosões à luz do Sol.
(O Globo, 22/5)

 

Fonte: Jornal da Ciência 3767, 22 de maio de 2009.