Mais calor e menos comida
14 de outubro de 2009 - 07:12
Falta de alimentos, causada pelo aquecimento global, reduzirá produção em 20%
Vinte e cinco milhões de crianças em todo o mundo vão passar fome em 2050 por causa da escassez de alimentos, cuja produção vai sofrer uma redução de 20% causada pelo aquecimento global. E o custo da adaptação às mudanças climáticas direcionada aos países em desenvolvimento será de cerca de US$ 100 bilhões anuais, já a partir de 2010.
É o que revelam dois estudos, distintos, mas interligados, divulgados ontem. Eles colocam ainda mais pressão nos líderes mundiais a pouco mais de dois meses da reunião de cúpula da ONU, em Copenhague, quando deverá ser acertado um novo acordo climático para suceder o Protocolo de Kioto, que expira em 2012.
De acordo com o primeiro estudo, coordenado pelo Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês), os habitantes dos países em desenvolvimento terão acesso a 2,41 mil calorias diárias em 2050, 286 calorias a menos que em 2000. Na África, esse valor será de 392 calorias a menos e, nos países industrializados, de 250 calorias abaixo.
– Este drama pode ser evitado com um investimento de US$ 9 bilhões anuais para aumentar a produtividade agrícola – afirmou Gerald Nelson, um dos autores do relatório, durante a sua apresentação, em Bangcoc, na Tailândia, onde ocorre a última rodada de negociações sobre clima antes da reunião da Dinamarca.
O estudo afirma que a escassez vai levar à alta dos preços de alimentos básicos, como trigo, soja e arroz (este pode sofre aumentos de até 121%). Seus autores lembram que as crises do ano passado, quando a falta desses produtos gerarou protestos em vários países, foram um alerta para a gravidade desse problema.
– Deveremos ter um aumento de 50% na população do planeta até 2050 e conseguir produzir alimentos para tanta gente já seria um grande desafio, mesmo se não houvesse aquecimento – disse Nelson.
Banco Mundial estima custo de adaptações
Todos as regiões do planeta serão afetadas, relata a pesquisa, mas as mudanças no clima terão impacto mais profundo na produção de alimentos no sudeste asiático e na África Subsaariana, por causa de colheitas ruins e secas severas.
– Se não direcionarmos mais investimentos nessa área, as consequências serão desastrosas. Nesse sentido, melhores estradas, sistemas de irrigação e acesso a água potável serão essenciais – acrescentou Nelson.
Na outra pesquisa, feita pelo Banco Mundial e também divulgada em Bangcoc, especialistas afirmaram que boa parte dos custos de adaptação nos países emergentes – que deve ser um dos grandes nós das negociações em Copenhague – deve ser destinado à proteção dos sistemas de transporte e das áreas litorâneas. Os valores divulgados – US$ 100 bilhões anuais – são considerados os mais precisos já estimados.
– Uma das razões para isso é que incluímos no estudo dados sobre o crescimento de diversas nações – disse Warren Evans, diretor de assuntos ambientais do Banco Mundial. – A maior parte dos estudos anteriores estimava, por exemplo, que Bangladesh será a mesma em 2050, e obviamente isso é incorreto. Esperamos que aconteça um maior crescimento na região e a diminuição da pobreza. Isso, sem dúvida, vai fazer uma diferença nos cálculos da adaptação.
O estudo do Banco Mundial é mais um a afirmar que a falta de ação agora tornará os custos da adaptação maiores no futuro.
– Para a população dos países emergentes, esse custo pode se tornar alto demais – afirmou o ministro do Desenvolvimento da Holanda, Bert Koenders. – Por isso, é fundamental o apoio financeiro internacional, em bases atualizadas, para essas nações.
(O Globo, 1/10)
Fonte: Jornal da Ciência 3860, 01 de outubro de 2009.