Local para instalação da Fiocruz no Ceará gera polêmica
15 de outubro de 2009 - 04:35
Instituição ocupará terreno às margens da Lagoa da Precabura. Professores e ambientalista reclamam da localização
Viviane Gonçalves escreve para “O Povo”, CE:
A notícia de que uma unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) será instalada no Ceará está sendo comemorada por profissionais da saúde e centros acadêmicos. Entretanto, o local onde a unidade será construída tem provocado reações.
O Governo do Estado já desocupou um terreno às margens da Lagoa da Precabura, no Eusébio, para fazer a doação. A área possui 50 hectares, sendo 11 hectares reservados para a instalação da Fiocruz e o restante para abrigar o Pólo Industrial de Biotecnologia, que receberá indústrias de medicamentos e de equipamentos de saúde.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o presidente da Fiocruz, o cearense Paulo Gadelha, vêm ao Ceará até o fim do mês para oficializar a instalação da unidade. O convênio foi assinado, mas espera publicação no Diário Oficial para a doação do terreno.
A ambientalista Vanda Claudino Sales atenta que a Lagoa da Precabura é uma área de preservação e requer estudo mais aprofundado para ocupação. Ela explica que a região não conta com rede de esgoto, o que pode gerar impactos com a instalação do empreendimento. “É preciso seguir a legislação ambiental”.
Segundo o secretário executivo da Saúde do Estado (Sesa), Arruda Bastos, o terreno não possui licença da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Semace) porque ainda não existe definição sobre o que será construído. “O projeto de ocupação do terreno não foi elaborado porque não sabemos quais indústrias serão instaladas lá. Mas estamos com uma equipe de consultores que vai realizar estudos ambientais sobre o terreno”, ressalta Bastos. Já manifestaram interesse em se instalar no pólo biotecnológico 12 indústrias cearenses e três estrangeiras.
Outro problema apontado é sobre a distância da unidade da Fiocruz com os centros acadêmicos. Para o professor da Universidade Federal do Ceará, Armênio Aguiar dos Santos, o intercâmbio será prejudicado. “A localização contraria a prática da Fiocruz noutros estados, que está em campi”.
O coordenador de planejamento da Fiocruz no Ceará, Luis Fernando Pessoa, afirma que os campi não apresentaram estrutura suficiente para abrigar a unidade e que um terreno próprio daria possibilidade de expansão. “Queremos atender as demandas para o fortalecimento da atenção básica; o desenvolvimento da indústria de medicamentos e o desenvolvimento de novas tecnologias para as unidades de saúde”. Além disso, ele diz que a distancia não vai impedir a relação da Fiocruz com os centros acadêmicos.
Saiba mais:
– O escritório da Fiocruz no Ceará, que funciona provisoriamente em um prédio na avenida Santos Dumont, já realiza levantamentos e consultas para definir que tipos de laboratórios devem ser instalados na nova unidade e quais áreas de pesquisas deverão ser priorizadas.
– A Fiocruz abriga atividades que incluem o desenvolvimento de pesquisas, a prestação de serviços hospitalares e ambulatoriais de referência em saúde, a fabricação de vacinas, medicamentos, reagentes e kits de diagnóstico, o ensino e a formação de recursos humanos, a informação e a comunicação em saúde, ciência e tecnologia, o controle da qualidade de produtos e serviços e a implementação de programas sociais.
– No ensino, a unidade da Fiocruz no Ceará vai atuar na formação de professores na área da saúde da família. Está previsto para o segundo semestre de 2010 a abertura das inscrições para o mestrado, com 50 bolsas oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação.
– Atualmente, a Fiocruz tem unidades em Minas Gerais, Amazonas, Pernambuco, Paraná, Bahia e Distrito Federal e, além do Ceará, estão em implantação filiais no Mato Grosso do Sul, Rondônia e Piauí.
(O Povo, CE, 7/10)
Fonte: Jornal da Ciência 3864, 07 de outubro de 2009.