Inpa desenvolve chapa de folhas vegetais

8 de outubro de 2008 - 11:58

As chapas de folhas desenvolvidas por pesquisadores do Inpa podem ser utilizadas em forros e divisórias

Um tema bastante discutido hoje é a necessidade de preservação das florestas e o uso dos recursos que as mesmas oferecem. No Amazonas, a exploração dos recursos florestais tem oferecido uma gama de produtos que vão além dos cosméticos e dos medicamentos.

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) desenvolveram uma chapa de folhas vegetais que pode ser utilizada na confecção de forros, divisórias, móveis e artefatos em substituição à madeira sólida e seus derivados (aglomerado, compensado e MDF), além de outros materiais como o PVC, o gesso e o isopor, utilizados para acabamentos na construção civil.

Jadir de Souza Rocha, um dos inventores da chapa, afirma que a riqueza da floresta amazônica não está só na madeira das espécies arbóreas. Portanto, outras matérias-primas florestais não madeireiras podem ser transformadas em produtos de excelentes qualidade e alternativa à madeira.

“Isso pode contribuir substancialmente para diminuir a pressão sobre as espécies economicamente desejáveis, cujos estoques são reduzidos drasticamente pela ação da atividade madeireira na região, uma situação preocupante, pois ainda não existem resultados que comprovem a eficácia do manejo florestal com as espécies arbóreas da Amazônia”, diz.

O pesquisador Jadir Rocha revela que ficava extremamente incomodado ao ver uma das matérias-primas mais abundantes da natureza ser desperdiçada naturalmente e pela ação do homem, que ainda adota a antiga e maléfica prática de atear fogo nas folhas das árvores que são derrubadas nas áreas de assentamento, nas chácaras, sítios, fazendas e até nos quintais dentro das zonas urbanas.

“Já tinha pensado em fazer a chapa, mas não queria que a tecnologia desenvolvida pudesse ser aproveitada só por indústrias com capacidade de altos investimentos em equipamentos para produção das chapas em larga escala. Era preciso encontrar alternativas que contemplassem também as micros e pequenas empresas”, afirmou.

Para isso, o pesquisador conta que teria de encontrar uma excelente resina, que, além de proporcionar o aumento da vida útil das chapas, possibilitasse a “cura” do material em espaços de tempo não tão grandes, utilizando prensas que não dispõem de sistema a quente e cujos preços de aquisição são mais acessíveis. “A resina foi encontrada e o processo de transformar as folhas em chapas foi iniciado”.

Rocha explica que, no processo de confecção da chapa, podem ser aproveitadas folhas de espécies arbóreas, de frutíferas, de palmeiras, de ervas daninhas e plantas ornamentais. “Primeiramente as folhas são trituradas para obtenção de pequenas partículas, podendo ser secas ao ar livre ou em estufas. Posteriormente, é feita a formação de um colchão de partículas com aglutinação de resina sintética e fibra de vidro”.

Opções de prensagem

O processo oferece duas opções de prensagem, a frio e a seco. No primeiro caso, não necessita de prensa com sistema a quente, sendo utilizadas resina de laminação, fibra de vidro, com adição de catalisador e pressão. “Este processo de “cura” da chapa é relativamente lento, e a produção dá-se em pequena escala”. No segundo, dispensa-se o uso de resina de laminação e catalisador, passando-se a usar resinas sintéticas, fibra de vidro e ação conjunta de temperatura e pressão. “A produção das chapas é muito rápida, podendo-se atender a grandes demandas”, salienta.

Rocha ressalta que a qualidade do material depende dos tipos de folhas. Ele cita como exemplos as folhas das palmeiras que são muito resistentes ao rasgo na direção transversal às fibras. “Nas outras espécies podem ser encontradas folhas bem espessas e de superfícies superlisas, cujas características são indicadoras de grande resistência ao rasgo, folhas sem tais características não são recomendadas”.

Ele acrescenta que, no processo de confecção, é possível se obter chapas com a leveza da espécie arbórea pau-de-balsa ou mesmo com a densidade da tão pesada maçaranduba. “As chapas oferecem resistência mecânica satisfatória, boa durabilidade, bom acabamento e excelente visual”.
(Assessoria de Comunicação do Inpa)

Fonte: Jornal da Ciência 3609, 30 de setembro de 2008