Inovar para exportar, artigo de Leonardo Senna

18 de março de 2009 - 06:23

“Para criar é preciso reservar tempo no nosso dia-a-dia. Mais do que tempo, é imprescindível que os empresários aumentem o nível de investimento em inovação”

Leonardo Senna é empresário. Artigo publicado no “Jornal do Brasil”:

Aqui no Brasil, o modismo exerce enorme fascínio sobre o empresariado. Foi assim com o boom da internet e, recentemente, com os IPOs – Inicial Public Offering (abertura de capital na Bolsa), só para citar dois exemplos notórios e de grande repercussão.

Eu acredito mais na inovação, porque fazer aquilo que todo mundo está fazendo significa entrar em concorrência pesada. Na empolgação do modismo e buscando seguir o que está dando certo, muitas empresas decidem fazer a mesma coisa, ao mesmo tempo, saturando rapidamente o mercado.

A inovação depende do desprendimento, da ousadia e, muitas vezes, da visão de médio e longo prazo. Às vezes o consumidor nem sabe o que quer, e aí cabe a ousadia. Afinal, os novos benefícios que um determinado produto trará aos consumidores somente serão percebidos se alguém acreditar no potencial de uma nova ideia. Então, temos que somar criatividade a um enorme esforço empresarial, porque ser o primeiro é sempre mais difícil.

Para criar é preciso reservar tempo no nosso dia-a-dia. Mais do que tempo, é imprescindível que os empresários aumentem o nível de investimento em inovação. No Brasil, as empresas investem apenas 0,6% do seu faturamento em pesquisas e desenvolvimento de produtos, segundo estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Um valor bem abaixo que o registrado em países mais avançados, como França e Alemanha, que têm 2,6% de seu faturamento investido em inovação.

Outro dado preocupante é a taxa média de inovação, indicador que se refere à quantidade de empresas que lançaram novos produtos ou processos em um certo período de tempo. As companhias brasileiras têm uma taxa de 33,3%. No entanto, segundo a Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), este número deveria ser, no mínimo, de 50%.

Na prática, isto significa que o atual ritmo de inovação do Brasil é 44% menor que o desejável. Para efeito de comparação, vale informar que na Coreia do Sul esta taxa chega a 70% e os coreanos foram responsáveis por 150 mil patentes depositadas no sistema mundial de patenteamento.

Um número cinco vezes maior do que o encontrado no Brasil, que, apesar de ter um dos povos mais criativos do mundo, apresentou 30 mil patentes, de acordo com o World Intellectual Property Organization (Wipo). Enquanto isso, aguardamos a China caminhar para ser a número um do mundo em patentes, o que deve acontecer em 2012, segundo a Thomson Reuters Scientific. O segredo chinês está num forte programa de incentivos governamentais que, inclusive, premia o inventor com bonificações equivalentes a um ano de salários.

Se considerarmos que a inovação tecnológica impulsiona exportações de produtos com maior valor agregado, estes baixos índices brasileiros tornam-se ainda mais preocupantes. A chance de exportar é mais um argumento que embasa minha aposta na inovação. As empresas inovadoras têm 16% mais chances de exportar e as exportadoras são quase sete vezes (6,84) mais produtivas graças aos ganhos de escala proporcionadas pelas vendas externas.

Entretanto, a inovação não garante passe livre para o comércio exterior. Para um produto ganhar o mundo, não basta ser novo e diferente. O empresariado precisa se planejar para adequar o produto às especificações de cada país, como os selos que atestam níveis de confiabilidade para o seu usuário. Nos Estados Unidos, a UL (Underwriters Laboratory) é a entidade que certifica os produtos, enquanto que, na Europa, a CE (Conformité Européene) possui este papel.

Embora ambas estejam voltadas à segurança do usuário, os critérios de avaliação diferem entre si e conseguir as certificações é um trabalho árduo e, muitas vezes, demorado. Geralmente, os produtos precisam sofrer algumas modificações, o que, no final, torna-se vantajoso.

Afinal, melhorias na confiabilidade, na durabilidade e na qualidade geral são incorporadas ao produto final, após o processo de certificação, tornando-o mais competitivo no mercado local ou externo. Enfim, para o Brasil seguir na tão desejada posição de liderança que lhe cabe, tanto na América Latina como no mundo, é fundamental a atenção dos empresários e do governo para a área de inovações tecnológicas.
(Jornal do Brasil, 3/3)

 

Fonte: Jornal da Ciência 3712, 03 de março de 2009.