Inovação mineira na indústria do petróleo

4 de janeiro de 2011 - 09:57

Grupo da UFMG ganha competição global de empreendedorismo com produto inovador para a indústria petrolífera
O desenvolvimento de uma tecnologia inovadora para a indústria do petróleo rendeu ao Grupo de Tecnologias Ambientais, composto por alunos da pós-graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o primeiro lugar no prêmio internacional de empreendedorismo Idea to Product Global. A entrega do prêmio aconteceu novembro, em Austin, no Texas (EUA).
 
Após ganhar a etapa latino-americana da premiação, a equipe mineira conseguiu disputar a final global, em que concorreu com universidades de peso da Alemanha, Suécia, Bégica e Estados Unidos.
 
“O prêmio é um dos mais importantes do mundo na área de empreendedorismo. Trazer este título para o Brasil, o único país em desenvolvimento a disputá-lo, é um enorme orgulho”, comemora Aluir Dias Purceno, integrante da equipe. O grupo também é composto pelos alunos Aline Silva, Raquel Mambrini e Ana Carvalho, sob a orientação acadêmica do professor Rochel Monteiro Lago, do Departamento de Química da UFMG, e coordenação empresarial de Euler Santos.
 
Além do título, a equipe levou para casa US$ 10 mil em dinheiro e vários cartões de empresas, incubadoras e investidores interessados na tecnologia. “O prêmio agregou valor ao nosso grupo e intensificou nos alunos a ideia de capitalizar o conhecimento, mostrando que as pesquisas podem e devem ser aplicadas ao mercado”, acredita Rochel Lago.
 
Solução inovadora
 
Para desenvolver a tecnologia premiada, a equipe partiu de um problema da indústria petrolífera. Durante o processo de exploração de petróleo, é comum o aparecimento de água associada ao óleo. Embora sejam substâncias que não se misturam, elas ascendem à superfície sob a forma de uma emulsão. Essa emulsão água-óleo é caracterizada por diminutas gotas d’água dispersas no petróleo recobertas por uma fina camada oleosa. As duas substâncias devem ser separadas, pois a emulsão afeta negativamente todo o processo, desde a produção até o refino.
 
Para isso, são utilizados desemulsificantes. A maioria dos desemulsificantes utilizados atualmente são polímeros. A equipe da UFMG testou a substituição desses polímeros por nanotubos de carbono aderidos à vermiculita, um mineral abundante no Brasil. Esse mineral tem afinidade com a água e, com a síntese de nanotubos de carbono, que possuem afinidade com o óleo, criam nanopartículas anfifílicas – material que possui em sua estrutura duas partes de polaridade diferentes associadas, uma solúvel em água e outra que recusa a água.
 
“Uma das vantagens dessas partículas é que, ao contrário dos desemulsificantes utilizados atualmente pelas indústrias do setor, elas poderiam ser separadas da mistura magneticamente e ainda serem reutilizadas por cinco vezes, sem perder a eficiência”, completa Aluir Purceno. Segundo o pesquisador, isso é capaz de gerar uma economia de até 80% no processo. “Para uma empresa do porte da Petrobras, que gasta anualmente cerca de US$1 bilhão para fazer a separação da emulsão água-óleo, seria uma economia de US$ 800 milhões”, explica.
 
Empreendedorismo
 
O desenvolvimento do projeto inovador foi incentivado pelo Programa Mineiro de Empreendedorismo na Pós-Graduação, cujo objetivo é desenvolver habilidades de empreendedorismo e inovação em alunos de cursos de mestrado e doutorado de diferentes áreas. A proposta é estimular os alunos a transformarem projetos testados em laboratórios em novos negócios, levando a pesquisa acadêmica para o mercado.
 
A iniciativa é do Sistema Mineiro de Inovação (Simi) em parceria com a Fapemig, o Instituto Inovação, a Fiat e a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).
 
O Programa foi estruturado a partir de um método chamado Empreendedorismo de Base Técnológica (Embate). A metodologia insere equipes em situações do cotidiano de um empreendedor e do processo de inovação e as desafia a encontrar soluções para problemas reais, lidando com imprevistos e buscando resultados.
 
A iniciativa, que contou com a participação de 13 universidades públicas sediadas em Minas Gerais, teve início em março deste ano e seguiu algumas etapas. A primeira foi a inscrição dos pós-graduandos. Em seguida, foram realizados os Embates dentro das universidades, quando os alunos, após um seminário que mistura lições de comportamento empreendedor e gestão, elaboraram um plano de inovação.
 
Cada universidade selecionou seu plano vencedor, como foi o caso da UFMG. Os treze planos selecionados, um por universidade, foram para a fase seguinte, o Torneio por Universidade, realizado em outubro deste ano durante a Feira Inovatec. O grupo da UFMG também foi quem levou o prêmio de Melhor Plano Inovador e ganhou uma visita à Universidade do Arizona, SkySong, referência mundial em inovação.
 
“Em maio do ano que vem vamos participar da Mooting Coorp Competiton, outra competição mundial ainda mais avançada sobre planos de negócios”, planeja Aluir Purceno.
(Assessoria de Comunicação da UFMG)

Fonte: Jornal da Ciência 4159, 16 de dezembro de 2010.