Haddad ressalta na ABC a importância da interlocução com a comunidade científica e acadêmica

5 de dezembro de 2008 - 09:52

Ministro da Educação defende a valorização da carreira de professor e diz que será encaminhada ao Congresso, no próximo ano, proposta de emenda constitucional garantindo a obrigatoriedade de matrícula dos 4 aos 17 anos

Daniela Oliveira escreve para o “JC e-mail”:

O ministro da Educação, Fernando Haddad, proferiu na manhã desta segunda-feira, 1º de dezembro, a palestra de abertura da conferência “Avanços e Perspectivas da Ciência na América Latina e Caribe”, promovida anualmente pela Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Haddad elogiou a mobilização das sociedades científicas por uma maior articulação com o governo federal. Na sua avaliação, além de reconhecer as conquistas na área de C&T e Educação, a comunidade científica e acadêmica sempre apresenta diferentes questões e desafios ao Estado, o que possibilita estabelecer novas pautas de trabalho. Como exemplo, ele citou as regulares reuniões do presidente Lula com a Andifes e sua recente visita à sede da SBPC, no mês de outubro.

“É muito surpreendente que essa articulação não fosse permanente. Espero que agora isso seja a regra, uma interlocução com acadêmicos, cientistas, reitores, diretores de institutos, e no âmbito da Educação, com os secretários estaduais e municipais da área”, disse o ministro, primeiro titular da pasta a visitar a sede da ABC, como destacou o presidente da entidade, Jacob Palis.

Apesar de reconhecer o movimento de recuperação das Universidades públicas, em especial na parte de infra-estrutura, Haddad frisou que é o momento de enfrentar o que considera os dois grandes gargalos atuais da educação e, conseqüentemente, do desenvolvimento da ciência no país: a ampliação do acesso e melhoria da qualidade do ensino básico e o incremento à formação e à valorização dos professores.

Com relação ao primeiro desafio, ele informou que será encaminhada ao Congresso Nacional, no próximo ano, uma proposta de emenda constitucional garantindo a obrigatoriedade de matrícula dos 4 aos 17 anos. “Será um pacto continental, no âmbito da Organização dos Estados Ibero-americanos, liderado por Brasil, Argentina e Chile, pela obrigatoriedade da matrícula da pré-escola ao ensino médio. A tarefa pela frente ainda é enorme, ainda estamos longe de atingir um grau adequado de desenvolvimento educacional, compatível com nosso potencial. Mas é preciso registrar que alguma coisa vem mudando no Brasil, e estamos trabalhando para isso”, observou Haddad.

Ele fez questão de lembrar da agenda proposta pelos pioneiros da educação no Brasil, que teve Anísio Teixeira como maior expressão: “Temos que romper os diques entre educação de elite e educação de massa, e pensar no conjunto, da creche à pós-graduação. Se não fizermos isso, não vamos equacionar os desafios hoje colocados. Temos a consciência de que a ciência brasileira não vai avançar no mesmo ritmo dos últimos 30 anos se não resolvermos os problemas da educação básica, começando com a educação infantil”.

E essa melhoria do ensino básico, ressaltou o ministro, deve enfocar não somente o aluno, mas igualmente o professor. “Podemos oferecer todos os programas de apoio para a permanência do estudante na escola, mas se não fizermos os mesmo com o professor, a equação não fecha”. Segundo Haddad, as ações neste sentido englobam a defesa do piso nacional para o magistério (“que ainda é um vexame”), a aprovação de diretrizes de carreira e a garantia do sistema de formação de professores, com forte atuação da União.

Ele ressaltou para a platéia de acadêmicos a importância da participação das instituições públicas de ensino superior neste processo, até mesmo em benefício próprio. “As universidades precisam acordar para o fato de que, se elas não se comprometerem com a educação básica, serão as maiores prejudicadas. Porque estamos aumentando muito o número de ingressantes, e se não houver o compromisso com o ensino básico essa expansão pode comprometer sua própria qualidade”, alertou Haddad.

A conferência “Avanços e Perspectivas da Ciência na América Latina e Caribe” prossegue até a próxima sexta-feira. A programação do evento pode ser conferida em http://www.jornaldaciencia.org.br/links/programa_conferenciaABC.pdf

Fonte: Jornal da Ciência 3652, 1º de dezembro de 2008.