Físico da USP ganha prêmio de R$ 800 mil

7 de julho de 2008 - 09:38

José Goldemberg leva o Planeta Azul por trabalhos na área de energia sustentável e biocombustíveis

O físico José Goldemberg, 80, professor da Universidade de São Paulo, é o novo quase-milionário da ciência brasileira. Goldemberg ganhou ontem (19/6) de uma fundação japonesa um prêmio de 50 milhões de ienes (cerca de R$ 800 mil) por “ter dado grandes contribuições na formulação e implementação de diversas políticas associadas a melhoras no uso e na conservação de energia”.

O Prêmio Planeta Azul , oferecido pela Asahi Glass Foundation, é dado há 17 anos a pessoas que se destacam em pesquisa e formulação de políticas públicas na área ambiental. Ao lado do Prêmio Goldman (o “Nobel” do conservacionismo) é o maior prêmio na área.

É a primeira vez que um latino-americano ganha o Planeta Azul. A honraria já coube a Gro Brundtland, ex-premiê da Noruega e chefe da comissão que elaborou o conceito de desenvolvimento sustentável, e a Susan Solomon, geofísica americana pioneira no estudo do buraco na camada de ozônio.

Também agraciado neste ano foi o glaciologista francês Claude Lorius, cujos estudos de testemunhos de gelo da Antártida ajudaram a decifrar as mudanças climáticas no passado e sua relação com os níveis de dióxido de carbono na atmosfera.

Ex-reitor da USP, ex-ministro da Educação e secretário nacional do Meio Ambiente (governo Collor) e um dos articuladores da Eco-92, o físico nuclear gaúcho é conhecido por suas contribuições para a mudança da maneira como o Brasil e o mundo enxergam a questão energética, nas décadas de 1970 e 1980.

Até então, os planejadores viam o consumo de energia como algo diretamente ligado ao PIB (Produto Interno Bruto) dos países -portanto, quanto mais energia se usasse, melhor.

O livro “Energia para um Mundo Sustentável”, de Goldemberg e colegas, ajudou a quebrar o paradigma, ao propor que a energia é um meio de atingir objetivos sociais.

Goldemberg também desenvolveu o conceito de “leap-frogging” (ou “salto”) tecnológico em energia, argumentando que países pobres não precisavam repetir a receita de tecnologia energética usada pelos países ricos no passado; poderiam “saltar à frente” com tecnologias mais limpas, como o álcool combustível -ele foi um dos pioneiros do Proálcool.

Questionado sobre se via o prêmio como um endosso indireto ao etanol brasileiro, o cientista afirmou: “O site do prêmio cita o programa do etanol, então acho que tem conexão”. Goldemberg diz não saber ainda o que fará com o dinheiro. “Tenho sido professor universitário a vida inteira. Ele é muito bem-vindo”, riu.

Fonte: Folha de SP, 20/6