Fiocruz fará droga infantil contra aids

6 de novembro de 2008 - 11:49

Anti-retroviral pediátrico será o 1.º do País, após aprovação da Anvisa

Fabiana Cimieri escreve para o “Estado de SP”:

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) encaminhou pedido de registro à Agência Nacional de Vigilância Sanitária para comercializar uma formulação infantil de anti-retrovirais usados no coquetel antiaids.

O presidente de Farmanguinhos, Eduardo Costa, espera iniciar a produção até o fim do ano. Segundo a coordenação do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids do Ministério da Saúde, atualmente, cerca de 7 mil crianças de 0 a 13 anos fazem terapia com anti-retrovirais.

“O objetivo é tornar o tratamento mais conveniente para o paciente”, explicou Costa. Os pais acabam tendo dificuldade para medir a dose corretamente, já que os comprimidos – para adultos – têm de ser partidos.

Além disso, atualmente, as crianças têm de tomar as pílulas duas vezes ao dia. Com a formulação infantil, a intenção é que seja necessário ingerir o medicamento apenas uma vez. A formulação infantil, que teve o pedido de registro encaminhado à Anvisa, é uma combinação de dois anti-retrovirais: a lamivudina (3TC) 30 miligramas, e a zidovudina (AZT) 60 mg.

“Queremos aumentar a aderência ao tratamento”, disse o presidente de Farmanguinhos, acrescentando que a instituição também está finalizando os testes com uma combinação de três medicamentos. Além das duas drogas usadas na primeira formulação, incluiu-se também a nevirapina, numa dose de 50 mg.

Para se ter uma idéia, a dose de anti-retrovirais usada em adultos é quase 10 vezes maior do que a utilizada nos pacientes pediátricos. Até então, não havia nenhuma composição infantil para o coquetel antiaids.

Inicialmente, a produção será toda vendida para o Ministério da Saúde, para ser usada pelo Programa Nacional DST/Aids. Mas, segundo Costa, a intenção é, no ano que vem, começar a exportá-lo para a África.

Em outubro, a Fiocruz inaugurou um escritório em Maputo, capital de Moçambique, para ser a sede das ações de cooperação com o continente africano, sobretudo com os países de língua portuguesa (mais informações nesta página).

Os pesquisadores de Farmanguinhos começaram a estudar a formulação infantil para o coquetel antiaids depois de terem desenvolvido, em parceria com a ONG internacional Medicamentos Para Doenças Negligenciadas, uma dose infantil do antimalárico ASMQ, que combina artesunato (AS) e mefluquina (MQ).

A Anvisa informou que o pedido de Farmanguinhos está sendo analisado e que, em média, o processo de registro demora cerca de três meses. Caso julgue necessário, a agência poderá solicitar novas informações antes de autorizar a comercialização do coquetel infantil.
(Estado de SP, 4/11)

Fonte: Jornal da Ciência 3634, 04 de novembro de 2008.