Fim pirotécnico

8 de outubro de 2008 - 11:56

Lançada contra a Terra, nave Julio Verne explode sobre o Pacífico

Uma grande explosão sobre o Pacífico marcou o fim da primeira missão do veículo espacial europeu Júlio Verne à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). A desintegração da nave no momento de reentrada da atmosfera era prevista e encerrou com êxito a missão de abastecimento do laboratório, apontada como um marco crucial para a Europa na área de tecnologia espacial.

Após uma complicada manobra final que o tirou de sua órbita com o objetivo de desacelerá-lo, o cargueiro entrou na atmosfera da Terra às 10h31m (horário de Brasília), numa altitude de 120 quilômetros. Quando se encontrava a 75 quilômetros de altura, sobre uma área sem ilhas do Pacífico Sul, a nave de 13 toneladas e 1,3 bilhão de euros se desintegrou, como explicou a Agência Espacial Européia (ESA na sigla em inglês).

Nave trouxe lixo da Estação Espacial

Doze minutos mais tarde, os fragmentos da Júlio Verne caíram no mar. O veículo havia sido lançado em 9 de março pelo foguete europeu Ariane-5 e levava seis toneladas de mantimentos e peças de reposição para a ISS, à qual permaneceu acoplado durante cinco meses.

Além de abastecer a estação, fazia parte da missão da nave retirar da ISS 2,5 toneladas de resíduos acumulados no laboratório. A idéia era justamente explodí-los junto com o veículo na reentrada da Terra.

— A missão constitui um avanço excepcional num ano particularmente bom para os programas de vôos tripulados da ESA — afirmou a diretora de missões da agência, Simoneta di Pippo.

Na análise da diretora, a Júlio Verne, ao lado do laboratório Colombo, revela a tecnologia “desenvolvida pela Europa em matéria de construção, lançamento e controle de uma infra-estrutura espacial”.

O veículo foi desenvolvido como parte do acordo da ESA com a ISS de abastecer a estação de combustível, água, oxigênio e materiais em geral.

Mas a performance da nave foi considerada tão boa que os diretores da agência européia e representantes da indústria já falam em criar um veículo capaz de levar astronautas para a estação. O primeiro passo, no entanto, é desenvolver tecnologia que garanta o retorno seguro da nave à Terra.

— A Europa deu um novo passo no desenvolvimento de uma tecnologia que permitirá colocar em órbita carga e astronautas e fazê-los retornar em segurança à Terra — afirmou Simoneta, lembrando que a próxima etapa do projeto é, justamente, criar um novo cargueiro que não precise ser destruído na reentrada da atmosfera. — Essa tecnologia contribuirá para definir o futuro dos vôos espaciais tripulados seja para a ISS seja para futuras atividades de exploração.

A agência espacial européia está apostando todas as suas fichas no desenvolvimento de um cargueiro espacial porque, a partir de 2010, ela será a responsável pelo abastecimento da estação, uma vez que os ônibus espaciais americanos deixarão de fazer o trajeto.

Enquanto não são aposentados de vez, os ônibus espaciais dos EUA continuam servindo a diferentes missões. O Atlantis está escalado para consertar o telescópio Hubble, cujo equipamento de transmissão de imagens para a Terra parou de funcionar. Mas a Nasa anunciou ontem um adiamento da missão, prevista originalmente para o próximo dia 15. De acordo com a agência, vários componentes ainda estão sendo testados.
(O Globo, 30/9)

Fonte: Jornal da Ciência 3609, 30 de setembro de 2008