Filtros naturais
24 de agosto de 2009 - 06:17
Estudo mostra que unidades de conservação incluídas no Programa Áreas Protegidas da Amazônia serão capazes de evitar a emissão de 1,1 bilhão de toneladas de carbono na atmosfera até 2050
Paloma Oliveto escreve para o “Correio Braziliense”:
Na corrida contra a degradação do planeta provocada pelos gases causadores do efeito estufa, as florestas brasileiras podem ter um papel fundamental. Um estudo apresentado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostrou que as 13 unidades de conservação apoiadas pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) têm capacidade maior de evitar as emissões de carbono na atmosfera que os demais parques, reservas e terras indígenas. A pesquisa foi feita em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o WWF-Brasil.
Lançado em 2002, o Arpa resultou de uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Ibama, o Banco Mundial e organizações não governamentais. A ideia é, até 2016, proteger ao menos 50 milhões de hectares da Amazônia.
Nos próximos quatro anos, o MMA pretende envolver mais a população no programa. “Queremos aumentar a qualidade dos resultados. Para a segunda fase, além de inserir mais 20 milhões de hectares e continuar com a consolidação dessas unidades, pretendemos trabalhar dentro da ótica do fortalecimento da gestão integrada, com a participação das comunidades e povos tradicionais da Amazônia”, diz o coordenador do Arpa, Anael Aymoré Jacob. Os recursos a serem investidos até o fim do programa somam US$ 400 milhões.
Ao contrário de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, cujos maiores responsáveis pelas emissões de carbono são os combustíveis fósseis, no Brasil, o grande vilão do aquecimento global é o desmatamento – a Floresta Amazônica brasileira já perdeu 650 mil quilômetros quadrados de sua extensão original.
Isso ocorre porque, na derrubada e queima de árvores, são liberadas grandes quantidades de gás carbônico (CO2), metano e óxido nitroso, provenientes da biomassa, e esses gases aprisionam na atmosfera o calor irradiado pela Terra, gerando o efeito estufa.
Utilizando o modelo de simulação SimAmazônia-2, o estudo “Redução das emissões de carbono do desmatamento no Brasil: o papel do Programa Áreas Protegidas da Amazônia” calculou o potencial de devastação futuro e as consequentes emissões de gases de efeito estufa até 2050.
Foi feita uma comparação entre as áreas apoiadas pelo Arpa e as unidades não contempladas com o programa. De acordo com a pesquisa, as áreas protegidas armazenam 4,6 bilhões de toneladas de CO2 e, caso não existissem, ficando à mercê da degradação ambiental, poderiam emitir 1,1 bilhão de toneladas de carbono equivalente na atmosfera até 2050.
Os pesquisadores também concluíram que, considerando as unidades de conservação criadas entre 2003 e 2007, mais os 127 mil quilômetros quadrados de novas unidades a serem apoiadas pelo Arpa, será possível impedir a emissão de até 4,3 bilhões de toneladas de carbono nas próximas quatro décadas. “Isso equivale ao que o mundo faria de esforço de redução em três períodos do Protocolo de Kyoto”, diz Paulo Moutinho, coordenador de pesquisas do Ipam.
Mercado de compensação
“Quando se fala em redução de emissões por desmatamento, está colocada uma questão fundamental. Se nós reduzimos as emissões, temos de ser compensados por isso”, defende o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Cláudio Maretti.
Paulo Moutinho, do Ipam, concorda. “Nós conseguimos evitar 4,3 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera. É preciso que se crie algum tipo de compensação para a sociedade”, diz.
Nos cálculos de Moutinho, caso o Brasil negociasse as reduções das áreas protegidas da Amazônia no mercado de carbono a US$ 3 a tonelada, um preço considerado baixo, frente aos US$ 10 cobrados usualmente, o retorno seria de US$ 40 bilhões. O governo brasileiro, porém, não vê com bons olhos a negociação de créditos de C02 no mecanismo de Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação (Redd).
A interpretação do Itamaraty e do Ministério de Ciência e Tecnologia é que, ao comprar os créditos de carbono oriundos da preservação da floresta, os países desenvolvidos eximem-se de perseguir as metas próprias de redução dos gases de efeito estufa.
Já o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello, é favorável à compensação. “O sequestro de carbono é uma alternativa, assim como o Redd, que é uma coisa muito recente. São mecanismos que estão em construção”, diz.
(Correio Braziliense, 20/8)
Fonte: Jornal da Ciência 3831, 20 de agosto de 2009.