Estudo propõe novo exame para câncer de próstata
18 de março de 2009 - 07:14
Brasileiros avaliaram proteína HER-2, usada para diagnosticar tumor de mama; O resultado indica não só a existência do câncer como sua agressividade
Amarílis Lage escreve para a “Folha de SP”:
Um marcador oncológico usado em mulheres com câncer de mama pode ser eficiente para detectar tumores malignos na próstata (o câncer mais prevalente entre homens). A constatação foi feita por pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein e da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) em estudo com 110 pacientes.
Trata-se do HER-2, uma proteína ligada à multiplicação celular que está presente em maior quantidade em alguns tipos de célula cancerosa -no caso do câncer de próstata, o resultado positivo indica não só a existência do câncer como a sua agressividade: os que apresentam superexpressão de HER-2 são piores do que os que não têm essa característica.
O principal marcador usado para identificar a doença é o PSA -uma substância produzida pela próstata que aparece de forma mais elevada em pacientes com câncer no órgão. Mas não é só o câncer que afeta o marcador, afirma o urologista Carlos Eduardo Corradi, chefe do departamento de uro-oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia: a hiperplasia benigna da próstata e inflamações no órgão elevam o índice de PSA.
Outra desvantagem do PSA é que ele é muito sensível a intervenções hormonais, afirma o oncologista Auro del Giglio, coordenador do Einstein.
Isso pode prejudicar a identificação de câncer em homens que usam finasterida (remédio para queda de cabelo), por exemplo. Como a substância faz com que o índice de PSA caia pela metade, o resultado do teste não é tão preciso. Essa limitação do marcador pode se tornar ainda mais importante a partir de agora, já que entidades médicas norte-americanas divulgaram, na semana retrasada, uma orientação de que homens saudáveis usem a finasterida como forma de reduzir o risco do câncer de próstata.
O problema, afirma Giglio, também aparece no acompanhamento de alguns pacientes que são submetidos a hormonioterapia. “Quando adotamos esse tratamento, é difícil saber se a queda observada no PSA se deve totalmente a uma diminuição do tumor ou não.”
O HER-2, de acordo com o oncologista, não apresenta essa variação. Mas ainda é cedo para afirmar que ele possa substituir o PSA. “Não podemos trocar algo estabelecido por algo experimental. É preciso mostrar a vantagem de forma conclusiva e, para isso, são necessários estudos em vários locais”, explica.
Enquanto isso, o novo marcador pode servir como um terceiro alerta, somado ao PSA e ao toque retal, sugere o urologista Marcelo Wroclawski, também pesquisador do Einstein e do grupo de próstata da FMABC. Em seis meses, ele e Giglio pretendem definir para que tipo de paciente o custo-benefício do exame pode ser mais interessante.
Avanço com limites
Stênio de Cássio Zequi, cirurgião pélvico do Hospital do Câncer A.C.Camargo, compara o perfil tumoral a uma senha de banco. Nesse sentido, usar o HER-2 como marcador para o câncer de próstata equivaleria a descobrir um dígito -um avanço que tem limites. “É impossível determinar o perfil do tumor só com um ou dois marcadores. O futuro é reunir essas informações para encontrar a senha de seis dígitos”, afirma.
No mês passado, uma pesquisa publicada na “Nature” mostrou que a sarcosina, presente na urina, também pode funcionar como indicador de câncer de próstata. A substância aparece em concentração maior em quem tem a doença.
(Folha de SP, 10/3)
Fonte: Jornal da Ciência 3717, 10 de março de 2009.