Estudo brasileiro liga proteína a cânceres

13 de fevereiro de 2009 - 07:03

Substância tem ação no processo de divisão celular e pode levar a novos tratamentos

Antônio Marinho escreve para “O Globo”:

Estudo brasileiro publicado na revista “Science” com uma proteína essencial na divisão e multiplicação celular pode levar a tratamentos mais eficazes contra o câncer.

A cientista Adriana Silva Hemerly, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, descobriu uma nova função para a ORC1. Ela participa de uma estrutura que autoriza a célula em divisão a duplicar o seu material genético como manda o figurino. Quando ela passa a informação errada, o processo se torna caótico e o câncer pode aparecer.

Qualquer célula para sobreviver precisa dar origem a duas células filhas com a mesma composição genética (igual número e tipos de cromossomos).

O papel da ORC1 já era bem conhecido neste processo. Quando tudo está certo no núcleo, ela autoriza o DNA a se multiplicar e depois a se dividir. Acreditavase que depois ela se tornava inativa. Mas o trabalho de Adriana — no grupo do cientista Bruce Stillman, no Laboratório Cold Spring Harbor, em Nova York — mostrou que a ORC1 atua também no controle do número de centrossomos.

É uma estrutura fora do núcleo que leva os cromossomos, depois de duplicados, a se dividirem de forma correta entre as células filhas.

— Há tempo se conhece a importância desta proteína na duplicação do genoma. Agora sabemos que ela regula o número dos centrossomos, limitando o número deles a no máximo dois no ciclo celular. Ela tem, então, duas funções importantes, que garantem que o genoma se duplique e depois se divida corretamente entre as células filhas — diz.

Papel no processo de envelhecimento

Na análise ela usou a tecnologia RNAi (interferência) para eliminar a expressão da ORC1. Quando isso aconteceu, houve multiplicação de centrossomos.

Depois foram aplicadas drogas para multiplicar os centrossomos e a ORC1 bloqueou este efeito. Uma das causas de câncer é a reprodução irregular de células, geralmente associada a um número excessivo de centrossomos: — Em testes, superexpressei a proteína ORC1 em células cancerosas e ela foi capaz de impedir a proliferação desordenada dos centrossomos. Isto poderia sugerir que a proteína tem efeito terapêutico.

Para a cientista, não se trata de solução milagrosa para o câncer. Até porque esta doença é multifatorial. Mas Adriana acredita que a ORC1 poderia minimizar a velocidade de crescimento, a agressividade e os sintomas do câncer.
(O Globo, 6/1)

Fonte: Jornal da Ciência 3697, 06 de fevereiro de 2009.