É preciso investir em energia alternativa, diz Sergio Rezende
27 de maio de 2009 - 07:14
Oferta sustentável de energia para este século depende de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Ministro da C&T participou nesta quarta-feira, dia 20, do XXI Fórum Nacional, no Rio
A exaustão do petróleo no longo prazo e a necessidade de conter as emissões de gases do efeito estufa impõem a busca de novas matrizes energéticas para garantir o crescimento da oferta de energia ao longo deste século. Isso, porém, só será possível com investimentos em pesquisa e desenvolvimento, disse nesta quarta-feira, dia 20, o ministro da CT, Sergio Rezende, durante painel no XXI Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae).
Rezende falou sobre as oportunidades de inovação tecnológica em energias alternativas para a propulsão de veículos. Embora o Brasil tenha uma matriz energética limpa (44,5% vêm de fontes renováveis), o setor de transporte consome cerca de 30% dos gastos de energia do país, patamar equivalente à média mundial.
“Faltam políticas que evitem que sigamos pelo caminho da América do Norte”, declarou o ministro, referindo-se ao tamanho da frota nos Estados Unidos – cerca de 250 milhões de veículos. Segundo a apresentação de Rezende, o Brasil tem frota de 25,6 milhões de veículos, tornando a opção por combustíveis alternativos uma oportunidade para evitar o aumento das emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global.
Embora reconheça que, no Brasil, ainda não se está fazendo muito pelo desenvolvimento de tecnologias limpas para a propulsão de veículos, Rezende destacou algumas frentes de pesquisa voltadas para o assunto.
Entre os exemplos, todos incluídos nas metas mais amplas do Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI) 2007-2010, estão a Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel, a Rede Bioetanol e o Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que é gerido pela Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS) e cujas instalações estão sendo construídas em Campinas.
No pronunciamento no XXI Fórum Nacional – que termina nesta quinta-feira, dia 21, no Rio –, Rezende lembrou ainda que o Brasil é o país que teve mais êxito na utilização de biocombustíveis na matriz energética dos veículos.
Além dos biocombustíveis, a pesquisa em busca de energias alternativas para o transporte inclui o desenvolvimento de motores elétricos para veículos e de motores movidos a células de hidrogênio. O ministro da CT lembrou que há pesquisas para desenvolver ônibus elétricos em instituições brasileiras, como a Coppe/UFRJ.
Sobre as células de hidrogênio, Rezende destacou que a tecnologia ainda está em fase de pesquisa básica e tem custo elevado. No Brasil, já foi desenvolvida uma célula, mas com pouca potência e muito grande. Rezende lembrou também que, há poucas semanas, o secretário de Energia dos Estados Unidos anunciou que o governo norte-americano reduziria a ênfase de seus investimentos para pesquisas nessa área. (Vinicius Neder, para o JC e-mail)
Ministro quer produção de carro elétrico nacional
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, disse ontem que o governo está mobilizando fabricantes de baterias, de motores elétricos, fabricantes de automóveis e pesquisadores para agilizar o desenvolvimento de tecnologia para a fabricação do carro elétrico nacional.
Na terça-feira, ele estará reunido, em São Paulo, com representantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e com os demais setores interessados para definir uma estratégia que permita ao Brasil manter-se alinhado com as pesquisas de ponta para se chegar a um carro elétrico competitivo em preço e desempenho.
“É relativamente fácil fazer carros elétricos. Temos fabricantes de motores e de baterias. Estou mobilizando (os setores envolvidos) para que possamos desenvolver o projeto de um carro elétrico nacional”, disse após fazer palestra no 21º Fórum Nacional, no Rio. Questionado sobre se havia a hipótese de criação de uma empresa estatal com o objetivo de desenvolver o projeto, Rezende rejeitou.
“Não é o caso de criar uma estatal para fazer veículos. Temos um empresariado consciente da necessidade de inovar, de desenvolver tecnologia para ser competitivo. Vamos fazer com o setor privado”, disse. O ministro disse que, no mundo inteiro, o problema não é fazer um carro elétrico, mas torná-lo competitivo, dada a dificuldade para o desenvolvimento de baterias adequadas. “O importante é não ficarmos para trás.”
Na palestra que fez sobre o uso de energias alternativas para propulsionar veículos, Rezende relacionou as vantagens e desvantagens das baterias. Destacou que as mais comuns atualmente em desenvolvimento precisam ser recarregadas em uma tomada elétrica, ou seja, acabam usando energia de uma fonte que pode ser poluidora.
A bateria de hidrogênio, que seria a fonte mais limpa, porque produz energia diretamente na reação eletroquímica e gera como subproduto a água, ainda tem custo de produção e de logística (transporte e armazenagem) muito altos, precisando de investimentos pesados no desenvolvimento.
Nos últimos anos, segundo o ministro, foram investidos no Brasil R$ 112,3 milhões em hidrogênio e células a combustível (o dispositivo eletroquímico que tem no hidrogênio seu combustível mais comum), sendo R$ 47,4 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia . Dado o grande tamanho das baterias, os projetos em desenvolvimento no país até agora são voltados para a utilização em ônibus. (Chico Santos, para o Valor Econômico)
(Valor Econômico, 21/5)
Fonte: Jornal da Ciência 3766, de 21 de maio de 2009.