De Moxotó para o Cosmo
7 de agosto de 2009 - 06:52
Brasil vai inaugurar no sertão o mais moderno caçador de asteroides perigosos
Roberta Jansen escreve para “O Globo”:
No remoto sertão do Moxotó, em Pernambuco, onde não há sequer luz elétrica, será inaugurado até o fim do ano um dos mais sofisticados aparelhos de observação do céu já instalados no país: o Impacton. O objetivo do telescópio é exclusivamente rastrear asteroides e cometas em possível rota de colisão com a Terra. O tema será discutido esta semana, na Assembleia Geral da União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês), que acontece no Rio.
Não se trata, como explicam os integrantes do projeto, de algo mais adequado ao catastrofismo de uma produção cinematográfica de Hollywood do que da ciência nacional. Mas sim de encarar de frente, e da melhor maneira possível, uma realidade que se mostra cada vez mais presente, conforme avançam os estudos:
— O Sistema Solar é um lugar violento — sustenta Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional, especialista em asteroides e uma das responsáveis pelo novo telescópio. — Esses bichinhos (asteroides e cometas) andam por aí e podem colidir conosco a qualquer momento.
Aparelho estuda composição química
Enquanto que no Hemisfério Norte existem pelo menos dez telescópios exclusivamente voltados para a detecção desse tipo de corpo celeste; no Hemisfério Sul são apenas dois, sendo que um deles, na Austrália, está desativado.
Por isso, os especialistas estimam que 60% dos asteroides e cometas visíveis nos céus do Sul, e em rota de colisão com a Terra, não tenham sido identificados ainda.
— No Hemisfério Sul o céu não foi varrido o suficiente para conhecermos bem essa população — atesta Carlos Henrique Veiga, do Departamento de Astrofísica do Observatório Nacional e integrante do Projeto Impacton, orçado em R$ 1,4 milhão. — Por isso, vamos monitorar os corpos celestes já identificados, mas vamos também, num segundo momento, buscar identificar os asteroides e cometas com risco não desprezível de choque contra o planeta que não são ainda conhecidos para, então, monitorá-los.
O monitoramento consiste em, inicialmente, traçar a rota do corpo celeste em questão, para saber se existe o risco de ela se cruzar com a da Terra. Se o estudo comprovar que existe, os especialistas passam, então, a avaliar sua composição química. É que, mesmo que a pedra seja grande, dependendo de sua composição, ela pode simplesmente se desintegrar na entrada da atmosfera. Mas, por exemplo, se for de ferro e níquel, passará intacta.
Os pesquisadores tentam, então, determinar o local do impacto e os possíveis danos.
O objetivo seria evacuar a região para evitar uma tragédia. Segundo Veiga, o risco de uma pedra grande (com mais de um quilômetro de diâmetro) se chocar com a Terra é pequeno, mas existe. Por isso, afirma, é importante ter tudo mapeado. Um asteroide em rota de colisão com o planeta está previsto para 2036. É preciso saber para onde ele vai.
(O Globo, 4/8)
Fonte: Jornal da Ciência 3819, 04 de agosto de 2009.