“Cores da Terra”: sustentável e criativo
11 de maio de 2011 - 08:57
Projeto resgata o uso do barro na pintura e beneficia 4.300 pessoas de comunidades rurais
Foto: Assessoria de Comunicação/Incaper |
![]() |
Tinta feita com barro não é tóxica e tem custo 30% inferior ao do material convencional |
04/05/2011 – Uma técnica simples e sustentável, capaz de transformar as diferentes tonalidades da terra em tinta, tem feito grande sucesso e mudado a realidade de várias comunidades rurais. Desenvolvido pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), órgão vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), o projeto se chama ‘Cores da Terra’ e, por meio de uma Tecnologia Social, resgata o uso do barro na pintura de residências e peças artesanais.
Este processo, de impacto ambiental mínimo e baixo custo, contribui para a criatividade, cooperação e melhoria da qualidade de vida dos envolvidos. E os benefícios vão além. A iniciativa ainda favorece o agroturismo, pois promove o embelezamento da paisagem rural e o aumento da renda de quem pratica o artesanato.
O material, produzido dentro dos princípios da bioarquitetura e agroecologia, apresenta boa qualidade, não é tóxico e tem custo 30% inferior ao da tinta convencional. O projeto já beneficiou cerca de 4.300 pessoas, direta e indiretamente, por meio da multiplicação da técnica para diferentes comunidades.
As tintas são preparadas com cola branca pura (cola de madeira), ou cola branca acrescida de cal e óleo, ou, até mesmo, com grude (feito com polvilho azedo ou goma de tapioca).
No último dia 7 de abril, o Incaper, em parceria com a Prefeitura Municipal de Colatina, capacitou 30 profissionais que atuam em projetos sociais na região, com treinamento de 8 horas, realizado na Associação do Banco do Brasil (ABB), para serem multiplicadores desse projeto, promovendo essa ideia sustentável e criativa.
“Essas pessoas serão multiplicadoras da técnica, contribuindo significativamente para o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais. Cada grupo treinado é responsável por disseminar o conhecimento para diferentes locais”, frisa Hélio José dos Santos, extensionista do Incaper em Marilândia e responsável por ministrar o curso em Colatina.
História
O projeto Cores da Terra teve início em 2007, por meio de uma parceria entre o Incaper e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde já eram desenvolvidos estudos similares. Em visita ao Espírito Santo, o coordenador do Departamento de Solo da UFV, Anor Fiorini, se reuniu com a coordenadora do Programa de Agroturismo do Incaper, Maria das Dores Perim, e com a coordenadora do Programa de Atividades Não-Agrícolas, Durnedes Maestri, para que as atividades fossem iniciadas.
Ainda em 2007, a primeira localidade a receber o curso foi Colatina, que também contou com a participação de municípios do norte do Estado. Em seguida, no mesmo ano e em 2008, Venda Nova do Imigrante, Cachoeiro e Linhares foram beneficiados, também recebendo participantes de outras regiões. Ao todo, representantes de 35 municípios capixabas participaram do treinamento.
De acordo com Durnedes Maestri, extensionista do Incaper aposentada e responsável pela coordenação do projeto até o início de 2011, os resultados do programa foram bastante expressivos ainda no começo de sua implementação. “A adesão por parte dos agricultores e artesãos foi muito grande. Além de aplicarem a técnica na pintura de suas casas, aproveitaram na produção de artefatos de argila como vasos, telhas, materiais de MDF e uma gama de outras peças utilitárias e decorativas”, afirma.
A extensionista explica como a técnica funciona. “As cores não são encontradas no solo, mas extraídas de sementes, raízes, cascas, folhas, flores, frutos e pigmentos naturais. Sendo assim, as tonalidades estão em plena harmonia com a natureza, não causam o impacto visual que pode ocorrer com alguns tons das tintas convencionais. Além disso, a retirada da terra é sempre orientada de forma correta, para que não cause degradação do solo”, ressalta.
Premiação
Em 2009, o Incaper foi o grande vencedor, na região Sudeste, do Prêmio Finep de Inovação, na categoria “Tecnologia Social’, com o Cores da Terra. O prêmio, promovido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), via Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), é o principal do setor no Brasil, configurando-se como um importante instrumento para premiar iniciativas inovadoras desenvolvidas em território nacional.
A partir da classificação no concurso, que beneficiou o Cores da Terra com R$ 500 mil, o Incaper deu início à elaboração de uma proposta de trabalho para aplicação do recurso conquistado. Entre as metas estabelecidas, foi firmada uma parceria com a Faculdade Univix, para o desenvolvimento de pesquisas para fixação da tinta também em tecido. A proposta foi aprovada e as ações tiveram início neste ano.
Além da premiação, o projeto também ganhou destaque na mídia e foi apresentado em eventos. O sucesso extrapolou os limites estaduais e o conhecimento da técnica inovadora foi levado a diferentes regiões do Brasil. Em 2008, foi apresentado no Congresso Brasileiro de Extensão Rural, em Londrina, no Paraná. No ano seguinte, a equipe do Incaper visitou Florianópolis, em Santa Catarina, para aplicar minicursos aos técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri). Ainda em 2009, oficinas foram ministradas para visitantes da Feira para Ciência da Vida, em Brasília, além da participação em outros Estados.
“A repercussão foi nacional. O Cores da Terra ficou conhecido pelo país inteiro e ganhará novos rumos com os estudos que, inclusive, já estão em andamento e irão permitir a fixação da tinta também em tecidos, além da extração de substâncias de sementes que auxiliem nesse composto”, explica Durnedes.
Fonte: Assessoria do Governo do Estado do Espírito Santo (Publicado em 25/04/2011)
Fonte: Rede de Tecnologia Social, 04 de maio de 2011.