Cientistas decodificam genes do câncer

13 de novembro de 2008 - 09:52

Paciente que morreu de leucemia doou suas células para a pesquisa, publicada na revista “Nature”

Pela primeira vez, pesquisadores decodificaram todos os genes de uma pessoa com câncer e encontraram um conjunto de mutações que podem ter causado a doença ou ajudado em sua progressão.

As células foram doadas por uma mulher de 50 anos que morreu de leucemia. Os cientistas compararam as células doentes com células saudáveis da própria paciente e encontraram um grupo de dez mutações. Mutações são erros genéticos, e as achadas na pesquisa não eram de nascença, mas foram desenvolvidas durante a vida, assim como a maioria das mutações que causam câncer.

O novo estudo, ao olhar para o DNA e tentar encontrar todas as mutações envolvidas num tipo de câncer, diferencia-se de outras pesquisas recentes que procuravam poucos genes para mutações individuais.

O projeto, que custou US$ 1 milhão, foi possível pelos recentes avanços tecnológicos que tornaram mais fácil e barato analisar milhões de fragmentos de DNA. O estudo foi feito na Universidade Washington (EUA) e publicado nesta semana na revista “Nature”.

A descoberta não vai ajudar os pacientes imediatamente, mas pode levar a novas terapias e quase certamente auxiliará médicos a fazerem melhores escolhas entre os tratamentos existentes. A técnica poderá ser usada no estudo de outros cânceres além da leucemia.

“Este é o primeiro de muitos genomas inteiros do câncer a ser seqüenciado”, disse Richard Wilson, diretor do Centro de Seqüenciamento de Genoma da Universidade Washington e líder do grupo de pesquisa. “O estudo dá um monte de pistas sobre o que está acontecendo no DNA quando o câncer começa a florescer.”

Até agora, segundo Wilson, a maioria dos trabalhos em mutações de câncer focaram em apenas algumas centenas de genes já suspeitos de estarem envolvidos com a doença. Essas pesquisas são úteis e já levaram ao desenvolvimento de algumas drogas que atacam defeitos específicos nas células.

Mas, diz Wilson, “se lá existem genes com mutação que você desconhece ou não espera, você irá perdê-los”. De fato, 8 em cada 10 mutações que o grupo encontrou na paciente não tinham sido relacionados à doença antes. (New York Times)
(Folha de SP, 7/11)

Fonte: Jornal da Ciência 3637, 07 de novembro de 2008.