Células-tronco tratam câncer
11 de agosto de 2010 - 08:10
Pacientes ganham novas traqueias produzidas com material do nariz e da medula
Uma equipe médica europeia alcançou um feito significativo contra o câncer. Eles reconstruíram a traqueia de uma jovem britânica, de 19 anos, e a de um tcheco, de 31, que sofrem da doença e estavam desenganados.
Nos dois casos, os cirurgiões usaram células-tronco extraídas do nariz e da medula (onde elas são mais abundantes) dos próprios pacientes para ajudar a criar um órgão biologicamente idêntico ao original.
Os pacientes não precisaram tomar drogas para evitar a rejeição. Os dois pacientes – não identificados – foram operados pela mesma equipe que em 2008 aplicou técnica similar para tratar a colombiana Claudia Castillo, de 30 anos, na Espanha.
Ela sofria de grave problema na traqueia, sequela de tuberculose. No caso de Claudia, os médicos liderados pelo italiano Paolo Macchiarini, professor na Universidade de Barcelona, implantaram a estrutura de uma traqueia retirada do cadáver de um homem de 51 anos. Antes, o órgão passou por limpeza em detergente enzimático.
Ficou apenas uma espécie de forma de colágeno, que foi repovoada com células da própria colombiana. Este ano, um menino de 10 anos, que tinha uma malformação rara, recebeu transplante semelhante.
Melhor qualidade de vida em poucos dias
Para a britânica, os médicos fizeram a traqueia com material biológico e injetaram as células-tronco um pouco antes do transplante.
Apenas quatro dias depois da cirurgia, no último dia 13 de julho, no hospital italiano Careggi, a jovem já conseguia falar. Segundo os médicos, serão necessários de dois a três meses para as células-tronco cobrirem completamente a traqueia formando um novo órgão.
– Esta é uma solução única para um problema que não tinha saída – disse Walter Giovannini, diretor do Hospital Careggi, em Florença. Os cirurgiões têm feito avanços no transplante de traqueias, mas em casos anteriores os órgãos estavam danificados por traumas. Já o câncer nesse caso é difícil de tratar porque é resistente à quimioterapia e à radioterapia. E os transplantes de dispositivos não são eficazes.
Porém, especialistas recomendam cautela, já que a técnica foi aplicada em poucos pacientes.
– Este ainda é um projeto de pesquisa, não uma terapia comprovada – afirmou Larry Goldstein, diretor do programa de células-tronco da Universidade da Califórnia. A técnica precisa ser melhor estudada.
(O Globo, 4/8)
Fonte: Jornal da Ciência Nº 4067, 04 de agosto de 2010.