Caçadores de raios
22 de setembro de 2009 - 07:10
Referência em detecção e rastreamento de descargas atmosféricas, o Brasil começa a desenvolver condições para prever o rigor das tempestades e, assim, promover ações de defesa
Silas Scalioni escreve para o “Correio Braziliense”:
Os raios são responsáveis pela morte de cerca de 100 pessoas todos os anos no Brasil, além de causar prejuízos estimados em US$ 200 milhões. Eles causam, com os ventos fortes, 70% dos desligamentos acidentais de transmissão elétrica no país, segundo dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Para piorar a situação, a intensidade da descarga produzida pelo fenômeno, segundo os especialistas, vem aumentando gradativamente, em grande parte devido ao aquecimento global. As consequências, no entanto, poderiam ser piores se o Brasil não tivesse um evoluído sistema de prevenções de incidentes causados pelos raios. A proteção vem da Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas Atmosféricas (Rindat), um conjunto de sensores e centrais espalhados pelo país e que permitem detectar, em tempo real, as descargas atmosféricas nuvem-solo.
A Rindat, que aos poucos começa a ser mais conhecida por Brasil DAT, foi criada a partir de um convênio de cooperação técnico-científica entre quatro instituições: Cemig, Furnas Centrais Elétricas, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar). Juntas, essas instituições compõem o Sistema de Detecção e Localização de Descargas Atmosféricas, que já ocupa a terceira posição no mundo em monitoramento, sendo superado apenas pelas redes dos Estados Unidos e do Canadá.
“Assim que ocorre uma descarga, os sinais são registrados pelos sensores e imediatamente transmitidos às cinco centrais de processamento da Rindat, instaladas em Belo Horizonte, Belém, Curitiba, Rio de Janeiro e São José dos Campos. Nelas, os sinais são processados para se obter a localização e as características dos raios”, explica Osmar Pinto Júnior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Inpe.
“É sempre importante ressaltar que qualquer sensor instalado no mundo detecta um raio depois que ele ocorre. Não existe qualquer mecanismo que possa prever uma descarga com antecedência”, afirma Ruibran Januário dos Santos, meteorologista e especialista em descargas atmosféricas da Cemig. A empresa, por sinal, é pioneira no Brasil em detecção e rastreamento de raios, tendo iniciado suas pesquisas e trabalhos em 1971. Segundo o meteorologista, o que a tecnologia consegue hoje é estimar ocorrências em um determinado lugar a partir de informações sobre fatos reais daquele momento.
Além do atual trabalho realizado na detecção de descargas nuvem-solo, outro projeto desenvolvido pelo Inpe e por Furnas, no oeste do Paraná, vem apresentando resultados bem satisfatórios: a detecção, por meio de sensores especiais, de manifestações dentro de uma nuvem. Sabe-se que quanto maior é a intensidade de raios no interior de uma nuvem, mais severas serão as tempestades e maiores são as chances de, na área do temporal, um número elevado de descargas atingir o solo.
“Conhecendo o que está ocorrendo dentro de uma nuvem, é possível antecipar, em pelo menos uma hora, os perigos de uma tempestade”, explica o coordenador do Inpe, ressaltando que projetos similares ao brasileiro vêm sendo desenvolvidos pelos Estados Unidos e pela Áustria.
Saiba mais sobre os sensores especiais:
LPATS III, LPATS IV, IMPACT 141-T, IMPACT ES/ESP e LS 7000 são os nomes dos sensores adotados para detectar a radiação gerada pelos raios. As diferenças entre eles resumem-se à forma com que a radiação é detectada, já que alguns captam somente a componente elétrica da radiação e outros, as duas componentes existentes: elétrica e magnética. A série LPATS enquadra-se no primeiro caso, e a IMPACT, que oferece maior precisão, no segundo. Já a LS oferece a tecnologia mais avançada do segmento, sendo responsável pela captação e análise dos raios dentro das nuvens.
(Correio Braziliense, 16/9)
Fonte: Jornal da Ciência 3849, 16 de setembro de 2009.