Brasil participa de consórcio global que irá mapear solos do planeta

18 de março de 2009 - 06:24

Embrapa Solos lidera trabalho na América do Sul e Caribe. Objetivo é mapear 80% dos cinco continentes nos próximos cinco anos

Nos próximos cinco anos, pelo menos 80% dos solos dos cinco continentes deverão estar mapeados por um consórcio global. O objetivo é disponibilizar informações para que os países consigam superar os problemas enfrentados na área de solos.

A Embrapa Solos, vinculada à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vai liderar o trabalho na América do Sul e Caribe, ao lado do International Center of Tropical Agriculture (CIAT).

Segundo Maria de Lourdes Mendonça, pesquisadora da Embrapa Solos e membro do Comitê Executivo Internacional para Mapeamento Digital de Solos, o levantamento terá um alto grau de detalhamento, permitindo obter, a cada quilômetro de solo, informações voltadas às necessidades mais evidentes daquela região do globo num formato apropriado para a tomada de decisões.

“Em vez de eu dizer o nome do solo, qual é a quantidade de carbono que ele pode armazenar, qual é o risco de erosão, qual é a disponibilidade de água, eu já vou dar informações que são mais apropriadas para a tomada de decisão, tanto em termos de agricultura, quanto de mudanças climáticas e monitoramento ambiental”, afirmou a pesquisadora.

De acordo com ela, serão utilizados bancos de dados disponíveis nos países, imagens de sensores, além de tecnologias modernas, para mapear o solo numa resolução mais detalhada, que será disponibilizada em um dado de bancos na internet.

O mapeamento identificará, por exemplo, a capacidade de retenção de água do solo, sua suscetibilidade ao processo de erosão, além da capacidade de armazenar carbono, entre outras informações.

Maria de Lourdes explicou que, enquanto na África o principal problema é a fertilidade para a produção de alimentos, na Europa, o desafio é a contaminação dos solos e das águas. Já no Brasil, o maior problema é degradação das terras que trazem o risco de erosão.

“Cada país, cada continente pode ter um problema diferenciado, que vai gerando os mapas”, disse.

Os pesquisadores pretendem apontar o que é possível fazer para enfrentar esses problemas, visando a melhorar as políticas governamentais.

O consórcio global, constituído em 17 de fevereiro, em Nova York, reúne pela primeira vez instituições de pesquisa e universidades dedicadas a estudos de solo em torno de uma política global de informações sobre o assunto.

A primeira fase, a ser desenvolvida nos próximos cinco anos, será dedicada à África e à organização de dados gerais e terá patrocínio da Fundação Bill e Melinda Gates.

Maria de Lourdes lembrou que o consórcio ainda busca novos financiadores para garantir os recursos necessários ao mapeamento de 100% dos solos do planeta.

Ela também destacou que o projeto está aberto a pessoas e instituições que queiram participar dos estudos. “Qualquer instituição que tenha informação sobre solos e queira participar é bem-vinda”.

O mais recente levantamento internacional sobre solos foi realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), nos anos 1970 e 1980. Mas, segundo a pesquisadora brasileira, além de estáticas, as informações não foram obtidas a partir de métodos quantitativos e estão muito dispersas.
(Alana Gandra, da Agência Brasil)

 

Fonte: Jornal da Ciência 3712, 03 de março de 2009.