Bioquímicos desenvolvem medicamentos a partir de venenos de serpentes.

7 de julho de 2008 - 09:18

No Laboratório de Química e Proteínas (LAQUIP) da Universidade de Campinas pesquisadores da área bioquímica isolam neurotoxinas e as analisam, caracterizando as estruturas de proteínas que possuem interesse farmacológico e fisiológico a partir de modelos biológicos.

Segundo o professor Sérgio Marangoni, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Biologia da Unicamp, o veneno em si representa um processo molecular bastante complexo. As neurotoxinas, que são as proteínas do veneno, atuam na transmissão nervosa muscular, as sinapses, paralisando os músculos bulbares da presa. Porém essa paralisia ocorre de maneira “flácida”, pois outras proteínas agem para amolecer e dissolver a carne da presa para facilitar a alimentação da serpente.

Com essas análises os pesquisadores do Instituto de Biologia e do Laboratório Sincrotron isolaram, purificaram e determinaram a estrutura tridimensional de neurotoxinas de escorpiões, serpentes e, em breve, de aranhas, desenvolvendo a partir do levantamento da ação biológica e dos sintomas provocados pelas proteínas desses venenos importantes medicamentos como o enalapiril e lisinopril.

A química de proteínas é apenas o primeiro passo para se chegar a desenvolver novos e eficientes medicamentos. Com persistência na busca, farmacólogos e bioquímicos observaram que o veneno da Bothtrops jararaca possui peptídeos capazes de baixar a pressão sangüínea, uma característica atômica peculiar dos seus aminoácidos, com ácido glutâmico ciclado e prolina nas extremidades que impedem a destruição desse peptídeo pelos sistemas imunológico e digestivo da presa. A indústria farmacêutica chegou a um produto que reproduz algumas partes da molécula e expressa a mesma função biológica de baixar a pressão arterial.

Outra contribuição significativa à indústria farmacêutica veio do curare dos índios sul-americanos. Após macerar um tipo de cipó eles extraem um substrato que traz um composto químico que impede a transmissão do impulso nervoso sendo usado para envenenar as pontas das flechas para a caça de alimentos. O curare foi reproduzido quimicamente e é utilizado em processos cirúrgicos, juntamente com outros anestésicos, para relaxar os músculos, facilitando a incisão.

O professor Marangoni atenta para o futuro das aplicações de estudos químicos das proteínas, insiste que o seu papel é comparar as proteínas dos venenos e observar as sutis diferenças e peculiaridades em suas estruturas, atestando a contribuiçãos venenos e observar as sutis diferenças e peculiaridades em suas estruturas, atestando a cotribuiço de cada região molecular para determinada função biológica. “Comparando substâncias, que podemos descobrir importantes diferenças promovidas pela natureza”, demonstrando como a biodiversidade é importante à descoberta de novos medicamentos.

(fonte: Jornal da UNICAMP).