Bebê pioneiro
24 de novembro de 2008 - 11:34
Mulher de 39 anos deu à luz depois de receber, por transplante, ovário inteiro de irmã gêmea
Nasceu na madrugada de ontem em Londres o primeiro bebê gerado por uma mulher que recebeu um transplante completo de ovário. O anúncio foi feito durante a conferência anual da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva. A menina, pesando 3,6kg, 54cm, nasceu na quadragésima semana de gestação de parto cesárea. Ela é filha de uma alemã com um britânico.
Os nomes dos pais não foram revelados. Especialistas consideraram o fato extraordinário porque esta é a primeira vez que uma mulher engravida a partir de um ovário completo transplantado.
A mãe do bebê ficou estéril aos 15 anos, quando os seus ovários deixaram de funcionar. Os médicos decidiram fazer o transplante como forma de aliviar os sintomas da menopausa precoce e restaurar a menstruação. Só que a alemã terminou engravidando naturalmente depois de receber um dos ovários de sua irmã gêmea, que já tem dois filhos e vive no Canadá. O sucesso desse tratamento abre a perspectiva de que mulheres que adiaram o sonho de ter filhos ou mesmo passaram da menopausa possam gerar um bebê.
Antes do nascimento do bebê inglês, outros nove nasceram no mundo depois que mulheres receberam implantes de pedaços de tecido ovariano. Mas, segundo especialistas, este tipo de procedimento oferece resultados por no máximo três anos. Sherman Silber, responsável pelo transplante feito na alemã, no Centro de Infertilidade de St. Louis, nos Estados Unidos, explicou que o transplante de um ovário inteiro tem chance de durar mais, pelo menos dez anos.
Técnica de difícil realização
Na opinião de médicos, a técnica poderá ser indicada, principalmente, para preservar a fertilidade quando a mulher precisa se submeter a tratamentos de câncer, e não para estender o período de fertilidade. Dessa forma, o ovário seria retirado e reimplantado na própria paciente, depois um período de armazenamento.
Silber recorreu a uma técnica microcirúrgica delicada para restaurar o fluxo sangüíneo e manter o ovário em seu lugar junto à trompa de falópio. Assim os óvulos puderam ser expulsos normalmente dessa estrutura até o útero.
— A artéria do ovário tem menos de um terça parte de um milímetro de diâmetro. É tão pequena que muitos ginecologistas nunca a observaram — disse Silber. — A reconexão dos vasos sangüíneos na profundidade da pélvis foi um grande desafio.
O fato de a alemã ter recebido o órgão de sua irmã gêmea reduziu a chance de rejeição ao órgão. Apenas três meses depois do transplante ela começou a ovular e os seus níveis hormonais foram normalizados. Um ano depois da operação, engravidou. Outro benefício que ela teve foi a redução do avanço da osteoporose.
No Reino Unido, a Sociedade Britânica de Fertilidade só aprova a cirurgia de transplante de ovário quando a fertilidade está ameaçada por um tratamento agressivo, como quimioterapia ou radioterapia.
Na opinião do porta-voz da instituição, Laurence Shaw, para adiar a gravidez há outras técnicas mais adequadas, como o congelamento de óvulos.
— Imagino que o congelamento de um ovário por longo prazo pode causar tantos danos quanto à deterioração devido à idade — afirmou o médico.
(O Globo, 13/11)
Fonte: Jornal da Ciência 3641, 13 de novembro de 2008.