Babaçu garante energia para comunidade isolada
6 de novembro de 2009 - 07:34
A 40 km da rede elétrica mais próxima, gerador da comunidade de Nossa Senhora do Seringueiro (RO) é abastecido com óleo vegetal extraído no próprio local.
Foto: Fundação Mussambê |
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Babaçu é a mais rica palmeira utilizada na indústria extrativista brasileira |
Com mais de 200 mil hectares espalhados pelos municípios rondonienses de Guajará-mirim e Nova Mamoré, a Reserva Extrativista (Resex) Ouro Preto está há mais de 40km da rede de energia mais próxima. Sem previsão de distribuição de eletricidade, um projeto desenvolvido pelo Grupo de Energia Renovável Sustentável da Universidade Federal de Rondônia (Unir), em parceria com as Universidades Federais do Amazonas e de Mato Grosso, já leva luz a 11 famílias. O gerador é abastecido com óleo de babaçu, considerada a mais rica palmeira utilizada na indústria extrativista brasileira.
Da folha da palmeira, que pode chegar a 20 metros de altura, pode se fazer telhado para as casas e artesanato; do caule, adubo e estrutura de construções; da casca do coco, carvão para alimentar as caldeiras da indústria; do mesocarpo, a multimistura usada na nutrição infantil. Da amêndoa pode obter-se ainda o óleo, usado na produção de biocombustível. “Apesar dessa riqueza, não há tradição de uso do babaçu em Rondônia. Demos destinação para essa vocação”, explica o professor e coordenador do projeto, Artur Moret. Na Resex, há em média 37 palmeiras por hectare, sendo 7 milhões no total.
Passo a passo
O processo, avisa Moret, começou com a costura de parcerias com a Associação dos Seringueiros do Baixo Ouro Preto e o Centro Nacional de Populações Tradicionais (CNPT – Ibama), que auxiliaram na escolha da comunidade Nossa Senhora do Seringueiro para reaplicar a tecnologia. “Eles vivem muito isolados. Nosso foco era gerar eletricidade com melhoria de qualidade de vida, usando um recurso fartamente encontrado na região”, diz.
Os frutos do babaçu, que caem quando maduros, são selecionados e recolhidos do próprio solo. Durante três dias, são secos ao sol, para depois serem quebrados manualmente. As amêndoas partem então para uma prensa com capacidade para processar 50kg por hora. O óleo extraído é filtrado e depositado em um reservatório. Para gerar eletricidade, são usados dois tanques: um de óleo diesel e outro de óleo vegetal. O sistema começa a ser operado apenas com óleo diesel, que aquece o óleo vegetal entre 70 e 80 graus e torna sua viscosidade similar a do diesel convencional. Quando isso acontece, o motor do gerador passa a funcionar exclusivamente com óleo vegetal.
“A comunidade foi capacitada para fazer a limpeza e a manutenção do motor, bem como de todas as peças utilizadas. Estamos falando de auto-suficiência energética”, diz Moret. Para cada 6kg de babaçu inteiro, diz, é possível extrair um litro de óleo. Os resíduos, avisa, também são integralmente utilizados no processo. Da casca, faz-se papel na comunidade. Do mesocarpo, farinha e bolos. Do côco, carvão. Parte do óleo também é utilizada para a fabricação de sabonetes. “Das 180 famílias, 20 são beneficiadas pelo projeto, ou com energia ou aproveitando os sub-produtos. Nosso objetivo, claro, é levar a alternativa para mais gente”, avisa Moret.
Outras Informações
Site: http://www.gpers.unir.br
Fonte: Portal da RTS, 04 de novembro de 2009.