Astrônomos enviam carta ao MCT sobre políticas e investimento no Laboratório Nacional de Astrofísica
11 de setembro de 2008 - 10:11
“Não faz parte da missão do LNA definir prioridades de investimentos nas áreas de rádio-astronomia e a astronomia espacial. Reconhecemos que esses investimentos são importantes e devem ser considerados pelas instituições responsáveis”
Leia abaixo a íntegra da mensagem, enviada ao ministro da C&T e assinada por 142 astrônomos, capitaneados pelos pesquisadores 1A do CNPq: Beatriz Barbuy (USP), Eduardo Bica (UFRGS), Abraham Chian (Inpe), Horácio Dottori (UFRGS), Sylvio Ferraz Mello (USP), Walter Gonzáles (Inpe), Jacques Lepine (USP), Kepler Oliveira Filho (UFRGS), Reuven Opher (USP), Miriani Pastoriza (UFRGS), João Steiner (USP), Thaisa Storchi-Bergmann (UFRGS):
“Os abaixo assinados são pesquisadores da área de Astronomia e Astrofísica trabalhando em instituições de ensino e pesquisa do Brasil. Viemos por meio dessa, trazer a Vossa Senhoria alguns pontos que consideramos importantes relacionados ao Laboratório Nacional de Astrofísica – LNA, instituto vinculado à vossa pasta e primeiro laboratório nacional a operar no país.
1 – O LNA teve uma política de investimento de grande vulto durante as últimas duas décadas. Essa política, fortemente apoiada pelo MCT, CNPq, fundações estaduais de amparo à pesquisa e outras, trouxe aos usuários de suas instalações condições de pesquisa de qualidade comparáveis às de países do primeiro mundo. É, pois, oportuno trazer a vosso saber nosso reconhecimento e agradecimento por esse apoio significativo e continuado; estamos vivendo o momento em que esses investimentos estão começando a trazer frutos tão almejados por todos nós.
2 – Reconhecemos, também, que o LNA tem gerido sua infra-estrutura seguindo as melhores práticas internacionais, com comissões de programa do mais alto nível técnico; isso tem propiciado o crescimento continuado da quantidade e qualidade da produção científica brasileira e dos seus programas de pós-graduação.
3 – A definição da política de investimento do LNA sempre teve a presença das instituições usuárias. Essas instituições têm assento cativo na CTC do LNA desde sua origem; essa CTC tem, pois, legitimidade para discutir e balizar as políticas de investimento na área de astronomia óptica e infravermelha, de acordo com o que explicita sua missão. Hoje temos acesso a três telescópios no OPD e aos telescópios SOAR (4 m) e Gemini (2 x 8 m). Além disso, temos acesso por troca de tempo, ao Blanco (4 m), Subaru (8 m) e Keck (2 x 10 m). O LNA coordena o acesso de toda a comunidade e em todos os casos a avaliação de mérito cientifico é feito por comitês, escolhidos entre os membros da comunidade.
4 – Além dos grupos e pós-graduações que se consolidaram com o apoio do LNA, como do IAG-USP, IF-UFRGS, Inpe, ON, UFMG, OV-UFRJ, UFRN, existe, nesse momento, um esforço muito grande de consolidação de grupos emergentes de pesquisa em Astronomia em diversas partes do Brasil (UFSM, UFSC, Univap, Unicsul, UFABC, Unifei, Uesc, UEFS entre outros). A existência de um Laboratório Nacional é fundamental para catalisar o apoio observacional e instrumental de que esses grupos necessitam. O LNA tem desempenhado esse papel de forma incisiva e competente.
5 – Como em todos os países do mundo, também no Brasil outras especialidades como a rádio-astronomia e a astronomia espacial não são administradas pelas mesmas instituições que administram a astronomia óptica e infravermelha. Trata-se de tecnologias totalmente distintas, que requerem infra-estruturas e competências próprias. Não faz parte da missão do LNA definir prioridades de investimentos nessas áreas. Reconhecemos que esses investimentos são importantes e devem ser considerados pelas instituições responsáveis.
6 – O LNA tem coordenado, também, o desenvolvimento de instrumentos de padrão internacional para os novos telescópios, em particular para o SOAR. Esses instrumentos são sofisticados e requerem o desenvolvimento de tecnologias de ponta, demandando tempo, infra-estrutura, equipamento e, acima de tudo, pessoal altamente qualificado. Enfatizamos que esse esforço faz parte da missão da instituição e queremos expressar nosso decidido apoio para a continuidade de tal esforço.
Finalmente gostaríamos de manifestar nosso ponto de vista de que o apoio às iniciativas do LNA deva continuar; e que os usuários e suas instituições continuem partícipes do esforço de planejamento e definição dos passos futuros.
Assinaram essa carta 142 astrônomos, dos quais 42 têm bolsa de produtividade de pesquisa do CNPq e 12 são pesquisadores de nível 1A.”
Nota da redação: A relação completa dos signatários da carta está em http://www.jornaldaciencia.org.br/Images/links/lista_lna.htm
Fonte: Jornal da Ciência 3590, 03 de setembro de 2008