Aquecimento fará dengue se espalhar
24 de novembro de 2008 - 11:29
Número de casos pode chegar a 3,5 bilhões em 2085, alerta especialista
Carlos Albuquerque escreve para “O Globo”:
Cerca de 3,5 bilhões de pessoas serão afetadas pela dengue em 2085, caso o aumento das temperaturas globais ultrapasse 3 graus Celsius. A sombria projeção vem de um dos mais respeitados centros de pesquisas sobre mudanças climáticas do mundo, o Hadley Centre, fundado em 1990 no Reino Unido e, desde então, uma referência no assunto.
— Nesse cenário, um dos mais pessimistas sobre o aquecimento global, o mosquito transmissor da dengue ampliaria sua área, se espalhando por regiões onde hoje ele não alcança — afirma Balakrishnan Bhaskaran, gerente de pesquisas climáticas do Hadley Center, em Exeter.
De acordo com Bhaskaran, com um aumento de 3 graus Celsius, poucos ecossistemas no planeta conseguiriam se adaptar às novas condições climáticas.
— Isso inclui a Floresta Amazônica, que teria grandes perdas e sofreria enormes modificações em sua estrutura.
Pelas projeções do Hadley Center, usadas como referência para o IPCC, se o mundo conseguisse estabilizar hoje suas emissões de gases de efeito estufa, as chances de a elevação das temperaturas ultrapassar os 3 graus celsius ainda seriam de 20%. Nesse caso, alerta Bhaskaran, entre 7 e 15 milhões de pessoas que vivem nas regiões costeiras seriam afetadas pela elevação do nível do mar.
As chances de o aumento das temperaturas globais ultrapassar os 2 graus celsius ainda neste século, limite considerado irreversível por diversos especialistas, as chances são de cerca de 75%.
— De qualquer forma, o impacto das mudanças climáticas já pode ser sentido agora — garante Bhaskaran. — Já estamos cerca de 0,7 grau Celsius acima da temperatura média dos períodos pré-industriais. Mesmo aqui, no Hemisfério Norte, os verões já apresentam alterações. Entre 1961 e 1990, um em cada dez verões apresentava temperaturas acima da média. Agora, são quatro em dez.
Neste ritmo, daqui a dez anos serão cinco.
O Hadley Center desenvolve atualmente uma parceria com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), como parte do projeto “Mudanças climáticas no Brasil”.
— Essa parceria permite que possamos aprender mais sobre as mudanças climáticas no Hemisfério Sul, e no Brasil em particular, com os especialistas locais — explica Richard Betts, diretor de estudos climáticos do Hadley Center. — Já temos um bom conhecimento das mudanças climáticas no Hemisfério Norte e agora, com essa parceria, pretendemos aprofundar nosso conhecimento sobre o sul.
(O Globo, 12/11)
Fonte: Jornal da Ciência 3640, 12 de novembro de 2008.