Antártica em alerta

28 de janeiro de 2009 - 09:42

Pela primeira vez, estudo revela aumento da temperatura média

Durante muito tempo cientistas que estudam as mudanças climáticas na Terra acreditaram que enquanto o planeta aquecia, grande parte da Antártica esfriava. Mas isso mudou.

O único continente que parecia imune ao aquecimento global está esquentando rapidamente. Novos estudos mostram que nos últimos 50 anos a região registrou uma elevação média na temperatura de 0,5 grau Celsius, cerca de 0,1 grau por década. Os dados foram publicados na revista britânica “Nature”. Estas mudanças têm influência direta no Brasil, pois a Antártica participa da regulação do clima no país.

Cerca de 90% do gelo do planeta encontra-se na Antártica. Até agora, a comunidade científica pensava que todo o interior do continente gelado estava esfriando e que a temperatura só aumentava na sua península, próxima ao extremo da América do Sul. Com base em análises de registros de estações terrestres e satélites, agora os autores da pesquisa contestam a ideia de que as temperaturas se mantêm em equilíbrio entre o oeste e o leste do Continente Polar.

A temperatura subiu de 1957 a 2006, especialmente no inverno e na primavera. É verdade que a parte leste da Antártica esfriou entre 1970 e 2000, mas desde então reaqueceu.

Com isto, a média sobe, explicou um dos coordenadores do estudo, Eric Steig, da Universidade de Washington e diretor do Quaternary Research Center.

“O aquecimento na Antártica ocidental (oeste) tem sido de um décimo de grau Celsius por década nos últimos 50 anos, anulando completamente o esfriamento da parte leste (oriental) durante o período de 1970 a 2000”, disse um comunicado da Universidade de Washington.

Buraco de ozônio ajudou a esfriar

Este aumento, similar ao do resto do planeta, está relacionado com alterações na circulação atmosférica, variações na temperatura da superfície dos mares e com a diminuição do gelo na região pacífica do oceano Sul. A curto prazo, este aquecimento não terá conseqüências graves.

Porém, com o tempo, a desestabilização da camada de gelo é uma possibilidade, afirmam os autores: — O oeste da Antártica é muito diferente do leste, e há uma barreira física, as Montanhas Transantárticas, que separam estas duas partes.

A camada de gelo da primeira está a uma altura de 1.830 metros do nível do mar e a segunda a 3.050 metros.

Uma das razões pelas quais se acreditava que a maior parte da Antártica esfriava é a presença do buraco na camada de ozônio, que aparece a partir da primavera na Região Polar do Hemisfério Sul. Este fenômeno seria responsável pela queda de temperatura na parte oriental, especialmente no outono.

— O buraco na camada de ozônio pode esfriar a Antártica ocidental, mas não intensamente como os fatores que produzem aquecimento. A Antártida ainda continuará coberta de gelo por milhares de anos, independentemente da ação humana. Porém poderá derreter-se, elevando o nível dos mares — disse Steig.

Saiba mais sobre o continente gelado

Refrigerador da Terra: A Antártica controla o clima no Hemisfério Sul. E mudanças climáticas no Brasil podem ser, em parte, resposta às alterações no continente gelado. As frentes frias, por exemplo, nascem lá. Os ventos atingem 327 quilômetros por hora e a temperatura chega a 55 graus Celsius negativos, muito mais baixa que a do Ártico, de menos 15 a 20 graus Celsius.

Gelo por toda parte: Pelo menos 98% da superfície está sempre recoberta por gelo, um manto de cinco quilômetros de espessura e volume de 25 milhões de quilômetros cúbicos. Se todo este gelo fosse transferido para o Brasil, daria para cobrir todo o país com uma camada de 2,9 mil metros de espessura. Se fosse totalmente derretido, aumentaria o nível do mar em 60 metros.

Água doce: De 70% a 80% da água doce do planeta estão no continente. Ele é cercado por uma camada de mar congelado, cuja superfície varia de 2,7 milhões de quilômetros quadrados no verão a 22 milhões de quilômetros quadrados no inverno.

Animais e plantas: No mar a vida é rica. Em terra é restrita à pequena faixa junto ao mar, livre de gelo no verão. É onde estão pequenos invertebrados, microorganismos e uma flora abundante em líquens e musgos, além de fungos, algas e poucas gramíneas. Focas e aves procuram esta área para reprodução e descanso.
(O Globo, 22/1)

Fonte: Jornal da Ciência 3686, 22 de janeiro de 2009.