Alimentos de crias de animais clonados estão mais perto do consumidor
11 de setembro de 2008 - 10:10
Leite e carne oriundos de crias de animais clonados estão se infiltrando aos poucos e sem alarde na cadeia de suprimento alimentar dos Estados Unidos
O número de clones está crescendo e ninguém está monitorando a expansão das linhagens. Em janeiro, a Administração de Alimentos e Remédios dos EUA (FDA) declarou que produtos vindos de vacas, porcos e cabras clonados – e de suas crias originadas convencionalmente – não ameaçam a saúde.
Phil Lautner, dono de uma fazenda em Jefferson, Iowa, diz que há “vários anos” manda para abate reses geradas por matrizes clonadas. Ele disse que, no momento, possui entre 50 e 100 crias de reses clonadas.
“Não há a menor diferença entre clones, crias de clones e crias de animais não clonados”, diz ele.
O veterinário Don Coover, criador de gado e dono da SEK Genetics, no Estado americano de Kansas, estima que já existam “centenas, talvez milhares de crias de clones” de bovinos nos EUA, embora isso represente uma fração mínima das 34 milhões de reses do país. Ele diz que vendeu cerca de 30 crias de clones para abatedouros.
A clonagem de animais recebeu atenção mundial com a duplicação da ovelha Dolly, na Escócia, em 1996, e é feita pela injeção de material genético do animal a ser clonado no óvulo de um fêmea. O embrião é então implantado no útero de uma outra fêmea, que vai carregar o feto até o nascimento. Animais clonados podem cruzar e produzir crias.
A tecnologia permite que os criadores reproduzam os animais com as características de seu interesse, como imunidade a determinadas doenças ou capacidade de produzir mais leite. Poucos têm usado essa possibilidade por causa do custo – cerca de US$ 20.000 por cabeça – e porque as autoridades reguladoras americanas pedem à indústria de alimentos que voluntariamente evite vender produtos feitos a partir de animais clonados.
Consumidores e grupos ativistas também resistem à comercialização desses animais por razões éticas, de saúde ou ambientais. Os animais clonados tendem a ter mais problemas de saúde no nascimento do que os gerados de forma tradicional e há muito poucos estudos de acompanhamento dos clones ou de suas crias durante todo o ciclo de vida.
“Como mãe de duas crianças, fico apreensiva e nervosa com o que está acontecendo no suprimento de alimentos”, diz Alexis Joyce, uma americana de 35 anos que gosta de fazer compras em feiras de produtos diretos da fazenda. “Isso não parece certo.”
O subsecretário de marketing e regulamentação do Departamento de Agricultura, Bruce Knight, diz que não pode garantir que não existam crias de animais clonados no mercado. “Não há como estabelecer diferenças entre eles”, afirma. Mas segundo ele o número é tão pequeno que torna “pouco provável” que tenham chegado aos consumidores.
A agência de segurança alimentar da União Européia divulgou relatório em julho admitindo que a clonagem animal “está à beira de amplo uso comercial e deve se expandir na cadeia alimentar global antes de 2010”. O relatório também diz que alimentos oriundos de suínos e bovinos clonados são seguros, apesar da oposição de um painel da UE à venda desses produtos, por razões éticas. A Comissão Européia ainda não definiu nenhuma política sobre o assunto.
A garantia de segurança dada pela FDA aumentou o interesse dos criadores e fazendeiros, diz Mark Walton, presidente da empresa texana de clonagem animal ViaGen Inc., que, segundo ele, deve produzir 200 clones em 2009. Em geral, o intervalo de tempo entre a produção do clone, a inseminação e a engorda da cria até o ponto de abate é de quatro anos.
Algumas dessas crias de clones podem alcançar bom preço no mercado. Lautner, o fazendeiro de Iowa, diz ter pago US$ 80.000 por um bezerro descendente de um clone de um touro premiado chamado Heat Wave.
Consumidores que quiserem evitar alimentos oriundos de animais clonados ou de suas crias devem comprar produtos com a etiqueta de orgânicos. Um painel consultivo do Departamento de Agricultura dos EUA concluiu, no ano passado, que os clones e suas crias não se enquadram no conceito de alimentos orgânicos.
No entanto, segundo Knight, o Departamento de Agricultura não adotou a recomendação do painel e está considerando a categorização dos clones ou crias de clones como alimentos orgânicos. (Do “The Wall Street Journal Americas”)
(Valor Econômico, 2/9)
Fonte: Jornal da Ciência 3589, 02 de setembro de 2008.