Ação humana sobre as florestas tropicais tem o impacto de tsunami

15 de janeiro de 2009 - 07:24

Metade da cobertura vegetal foi perdida e recuperação não é suficiente

O impacto da ação humana sobre as florestas tropicais já causou estragos semelhantes ao de uma tsunami. O alerta faz parte de um estudo feito por um grupo de cientistas, que participou de um simpósio sobre as ameaças a esses ecossistemas, realizado ontem nos Estados Unidos.

De acordo com o biólogo Gregory Asner, do Departamento de Ecologia do Instituto Carnegie, de Washington, um dos autores do trabalho, serão precisos novos e sofisticados mecanismos para monitorar as mudanças ocorridas nas florestas, ameaçadas pelo desmatamento e pelo corte seletivo que, segundo ele, não estaria sendo tratado como uma alternativa ao desmatamento.

No trabalho, Asner e equipe reuniram uma série de dados, a partir de imagens de satélite e outras conseguidas com o Google Earth. Eles mostraram que 1,4% das florestas tropicais úmidas do planeta foi desmatado entre 2000 e 2005, e que metade das florestas perdeu 50% de suas árvores somente em 2005.

— O corte seletivo é mais difícil de reconhecer e medir do que o desmatamento geral — explica Asner. — Mesmo assim, avaliamos que 28% das florestas tropicais úmidas estão sofrendo algum tipo de devastação.

Quatro milhões de metros quadrados desmatados

De acordo com Asner, os impactos do corte seletivo são menos “dramáticos” do que aqueles causados pelo desmatamento geral.

— Mesmo assim, eles são capazes de alterar a estrutura da floresta — assegura Asner, que, em um outro trabalho, publicado em 2006, mostrou que 32,7% das terras amazônicas que sofrem extração das árvores de interesse comercial acabam completamente devastadas em quatro anos. Mas nem tudo é devastação.

Os pesquisadores descobriram também que cerca de 1,7% das florestas tropicais úmidas encontram-se em algum estágio de recuperação, a maior parte em áreas montanhosas.

O estudo comandado por Asner mostra que 350 mil metros quadrados de floresta que foram botados abaixo pelo homem estão se recuperando.

Um número ainda baixo perto dos 4,6 milhões de metros quadrados de floresta já devastados, indo da Amazônia às áreas da África e do sudeste asiático.

— Não podemos esperar que essa área recuperada tenha imediatamente a mesma diversidade do ecossistema original — explica William Laurence, do Centro de Pesquisas Tropicais do Instituto Smithsonian.

Asner ressalta que a precisão dos dados do seu estudo é limitada pela tecnologia atual, especialmente em relação a imagens mais detalhadas da cobertura vegetal. Mas, segundo ele, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas — como sensores mais apurados — para a monitoração das “tsunamis” que devem continuar a varrer as florestas tropicais de todo o mundo nas próximas décadas.
(O Globo, 13/1)

Fonte: Jornal da Ciência 3679, 13 de janeiro de 2009.