Ação humana inverte ciclo de dois mil anos de resfriamento no Ártico
11 de setembro de 2009 - 06:31
Aquecimento pode liberar metano aprisionado há séculos no gelo
O aquecimento global fez romper um ciclo natural de resfriamento do Ártico iniciado há dois mil anos. Com isso, as temperaturas locais no verão tiveram um aumento jamais registrado nesse período, a despeito do fato de que a região deveria estar esfriando, por causa de alterações na órbita da Terra, que fazem com que ela receba menos iluminação do Sol.
É o que revela um estudo publicado na revista “Science”. O degelo do Ártico tem profundo impacto no mundo porque pode alterar correntes oceânicas e também liberar metano, um poderoso gás causador do efeito estufa, preso na camada permafrost (o solo congelado).
– O acúmulo de gases do efeito estufa está interrompendo esse ciclo natural de resfriamento – disse o climatologista Darrel Kaufman, da Universidade do Norte do Arizona, principal autor do estudo. – Com isso, sem dúvida acontecerá mais degelo, que vai afetar regiões costeiras em todo o mundo. Esse aquecimento também vai derreter o permafrost, liberando na atmosfera metano há séculos aprisionado.
Os pesquisadores analisaram camadas de sedimentos de antigos lagos, círculos de crescimento das árvores, núcleos de gelo e outros índices. Dessa forma, conseguiram reconstituir a evolução do clima e as temperaturas a partir de 8 mil anos atrás e, mais precisamente, década por década.
Segundo eles, o Ártico recebia menos energia solar no verão, resfriando 0,2 grau Celsius por milênio, tendência que se inverteu a partir de 1900.
– O século XX é o primeiro durante o qual a quantidade de energia solar já não é o fator mais importante a determinar a temperatura do Ártico – disse Nicolas McKay, que também participou do estudo.
Segundo a pesquisa, o intervalo de dez anos mais recente, entre 1999 e 2008, foi o mais quente dos últimos dois mil anos no Ártico.
Secretário-geral da ONU demonstra preocupação após visitar a região
Após visitar por alguns dias a base internacional de Ny Alesund, na Noruega, onde observou diretamente o impacto das mudanças climáticas no Ártico, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também demonstrou preocupação com a região. Ele advertiu que o Ártico está se aquecendo mais rapidamente do que qualquer outro lugar na Terra e “pode ficar sem gelo até 2030”.
– Em vez de refletir o calor, o Ártico o está absorvendo, enquanto o gelo diminui. Isso acelera o aquecimento global – afirmou Ban Ki-moon, pedindo que as nações do mundo cheguem a um acordo sobre limites de emissões em Copenhague.
(O Globo, 4/9)
Fonte: Jornal da Ciência 3842, 04 de setembro de 2009.