Pesquisa desenvolvida em INCT é capa de revista internacional

11 de junho de 2012 - 10:33

Artigo sobre o papel de radicais livres na fisiologia e patofisiologia está na edição de maio do periódico Chemical Research in Toxicology da American Chemical Society.

Radicais livres são produtos inevitáveis do nosso metabolismo, que utiliza oxigênio molecular para obter dos alimentos a energia que precisamos para viver. Até fins do século passado, eram considerados espécies deletérias e responsáveis por várias doenças humanas. Hoje, no entanto, sabemos que, embora possam participar de várias doenças degenerativas, radicais livres e oxidantes são também essenciais, porque, entre várias outras coisas, participam do combate a infecções e da propagação da nossa espécie por meio do ato sexual.

Essa visão atualizada dos papéis fisiológicos e patofisiológicos de oxidantes e radicais livres começou a se estabelecer a partir da descoberta de que nós, e os mamíferos no geral, sintetizamos o radical livre óxido nítrico. Tal síntese ocorre de maneira controlada, catalisada por uma família de enzimas, as sintases do óxido nítrico, para produzir esse radical livre pequeno e gasoso, que atua como um sinal molecular que controla funções fisiológicas fundamentais. Dentre elas, destacam-se o controle de fluxo sanguíneo, a comunicação entre neurônios e a defesa contra microrganismos. A descoberta da síntese e funções do óxido nítrico teve um grande impacto em todas as áreas relacionadas à Medicina e deu o Prêmio Nobel de Medicina de 1998 aos seus descobridores, Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad.

Desde então, muitos pesquisadores procuram compreender os detalhes moleculares dos processos pelos quais o óxido nítrico e outros oxidantes participam de processos fisiológicos normais e como esses processos são subvertidos em processos degenerativos que levam a doenças. Só com o conhecimento desses mecanismos moleculares será possível desenvolver abordagens terapêuticas efetivas para tratar doenças crônicas prevalentes no mundo moderno, como doenças cardiovasculares, doenças neurodegenerativas e câncer.

Entre as dificuldades para entender esses mecanismos, está a natureza elusiva dos radicas livres e oxidantes, que têm vida muito curta em condições fisiológicas, nas quais duram de segundos a menos de milionésimos de segundos (10-9 s, ou nanossegundos). Essa variabilidade de vida média em condições fisiológicas está relacionada com as propriedades específicas de cada radical livre/oxidante. Para avançar a nossa compreensão sobre o papel de radicais livres na fisiologia e patofisiologia, é imprescindível ligar a química dessas espécies com suas funções fisiológicas.

Artigo – E é justamente isso que faz o artigo de revisão “Connecting the chemical and biological properties of nitric oxide” publicado por Ohara Augusto e José Carlos Toledo Jr e capa da edição deste mês de maio do periódico Chemical Research in Toxicology da American Chemical Society.  

“Nesse trabalho, sumarizamos as propriedades químicas e bioquímicas do óxido nítrico, discutindo sua reatividade química, fontes biológicas, níveis fisiológicos e patofisiológicos e transporte celular. Ressaltamos todos os alvos bem estabelecidos do óxido nítrico, a cinética dessas interações e suas implicações fisiológicas e patofisiológicas. E, principalmente, concluímos que qualquer ação biológica atribuída ao óxido nítrico deve ser conectada com a relevância cinética dos alvos biológicos. Assim, ressaltamos que a compreensão da fisiologia e patofisiologia de radicais livres só será possível com abordagens interdisciplinares, que combinem biologia de sistemas com estudos químicos e biológicos rigorosos. Abordagens alternativas têm acumulado muitos resultados equívocos e/ou frustrantes”, explica Ohara.

Ela é professora do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma); e Toledo Jr. é professor do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da USP de Ribeirão Preto. Ambos são membros do Redoxoma.
(Ascom do CNPq com informações do Rodeoxoma)

 

Fonte: Jornal da Ciência 4503, 23 de maio de 2012.