Syngenta fecha acordo para pesquisa de cana com especialistas brasileiros

13 de abril de 2010 - 04:34

Suíços vão somar nova técnica de plantio com variedades do Instituto Agronômico paulista
O potencial brasileiro na produção de cana-de-açúcar e etanol, somados ao conhecimento gerado por pesquisadores brasileiros sobre a planta, levou mais uma multinacional da agricultura a firmar parceria com um centro brasileiro de pesquisas. A suíça Syngenta anunciou na terça-feira (9/2) um acordo com o Instituto Agronômico do governo de São Paulo (IAC), antigo Instituto Agronômico de Campinas, para o desenvolvimento conjunto de tecnologias de cana.
 
O destaque que o biocombustível brasileiro está ganhando no mundo e mesmo no mercado interno, com o crescimento da frota bicombustível, atrai cada vez mais empresas de tecnologia agrícola. Sem grande conhecimento agronômico da cana, elas recorrem aos pesquisadores brasileiros. No ano passado, a Basf havia firmado parceria semelhante com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), e em 2008 a Monsanto adquiriu do grupo Votorantim as empresas CanaVialis e Allelyx, especializadas em cana.
 
Por outro lado, as entidades de pesquisa brasileiras ganham o dinamismo e as tecnologias mais caras das multinacionais. “O fator fundamental para o IAC foi o acesso à tecnologia Plene, da Syngenta, que é um novo paradigma no plantio de cana”, diz o coordenador do Programa Cana do IAC, Marcos Landell.
 
Plene
 
A tecnologia em questão é um sistema de plantio baseado no tratamento das gemas (pequenos pedaços) de cana usadas para o plantio mecanizado, que reduz o volume de cana que precisa ser plantado.
 
Sema tecnologia, usa-se algo entre 12 e 15 toneladas de gemas para plantar cada hectare de cana. A Plene pode reduzir esse intervalo para 1 a 2 toneladas, segundo Landell, diminuindo significativamente os custos de transporte de gemas e de maquinário para plantio. “O efeito será ainda mais benéfico nas regiões de fronteira da cana, já que as novas áreas precisarão de menos mudas para começar a produzir”, prevê o pesquisador.
 
O primeiro passo será uma análise genética das variedades já lançadas pelo IAC para saber quais se adaptam à Plene. Essa etapa deve ser concluída em seis a oito meses, segundo o diretor de novas tecnologias de cana da Syngenta, Marco Bocchi. Depois, as variedades ainda em desenvolvimento também entrarão no processo.
 
Novos avanços
 
Mas o acordo tem como pano defundo o acesso da Syngenta ao banco de variedades do IAC, que permitirá que a companhia suíça desenvolva marcadores moleculares para a cana, o que pode acelerar muito a pesquisa de variedades melhoradas. “A Plene é o foco de curto prazo, mas o IAC nos dará acesso a um banco que nos permitirá descobrir os genes ‘bons’ e ‘maus’ responsáveis por cada característica da cana”, explica Bocchi.
 
O processo já é usual no milho e na soja, e consiste em comparar diferentes variedades para saber qual gene é responsável por cada característica. Com essas informações, em vez de plantar e esperar a cana crescer para saber qual é mais produtiva, por exemplo, bastará fazer uma rápida análise genética para identificar as melhores variedades. “Estudamos pesquisar o gene que dá à cana a resistência à ferrugem alaranjada, praga perigosa que surgiu nesta safra no Brasil”, adianta o diretor da Syngenta.
 
A parceria também prevê estudos para o avanço da tecnologia genética SugarBooster, da Syngenta, que aumenta o teor de açúcar da cana. Ainda estão previstos treinamentos cruzados entre os pesquisadores da Syngenta e do IAC para a troca de conhecimentos.
(Luiz Silveira)
(Brasil Econômico, 10/2)

 

Fonte: Jornal da Ciência 3948, 10 de fevereiro de 2010.