O bicho mais estranho do mundo
24 de agosto de 2009 - 06:29
Bombardeiro do abismo
Há luz no fundo do abismo. A cerca de quatro mil metros de profundidade, nas planícies abissais do Oceano Pacífico, vivem criaturas transparentes capazes de ejetar partes do próprio corpo e liberar luz verde num ambiente gelado de treva absoluta, onde a luz do Sol nunca alcança. É um mundo vetado a seres humanos, que seriam esmagados pela pressão. Coube a minissubmarinos robôs a tarefa de capturar exemplares desses animais, cuja descoberta é descrita na edição de hoje da revista americana “Science”.
Ao todo, os pesquisadores identificaram sete espécies desses animais, vermes marinhos em nada parecidos com seus parentes de terra firme. São pequenos – a maior espécie chega a medir 10 centímetros. A descoberta evidencia como a biodiversidade marinha é ainda pouco conhecida.
Cientistas estimam que milhares, talvez milhões de espécies, possam viver no fundo do mar, a grandes profundidades, um ambiente hostil que antes era considerado um deserto. As chamadas planícies abissais são a última fronteira para a vida na Terra.
Imagens captadas do fundo do mar revelaram que os animais ejetam uma espécie de bomba de substância bioluminescente verde. Supostamente para desnortear predadores, dando ao animal chance de escapar. Os cientistas os chamaram de bombardeiros verdes.
As sete novas espécies de vermes marinhos foram descobertas por um grupo coordenado por Karen Osborn, do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia, San Diego.
– Descobrimos um novo grupo de animais bem grandes dos quais nunca tínhamos ouvido falar antes – afirmou Karen. – Não se trata de um animal raro. Com frequência, os vimos em grupos de centenas de indivíduos em imagens captadas por robôs.
Os bombardeiros verdes foram encontrados em vários pontos do nordeste e do oeste do Pacífico, da costa do México e da Califórnia às águas em torno das Filipinas.
– Eles apresentam uma forma muito estranha de usar a bioluminescência – explicou Karen. – Eles têm apêndices, redondos, ovalados ou longos, que lançam quando se sentem ameaçados. Uma vez lançado, o apêndice brilha em luz verde. Eles lançam um ou dois apêndices de cada vez e, se você continuar a importuná-los, eles continuam lançando-os.
Segundo a pesquisadora, as partes lançadas se regeneram. É a primeira vez que tal faculdade é constatada em vermes do mar, embora algumas estrelas-domar e lulas lancem partes dos braços e tentáculos, quando atacadas.
(O Globo, 21/8)
Fonte: Jornal da Ciência 3832, 21 de agosto de 2009.