Nasa não tem verba para caçar asteroides mortais, diz relatório
14 de agosto de 2009 - 07:13
Agência estima que cerca de 20 mil asteroides e cometas no Sistema Solar com mais de 140 metros de diâmetro sejam ameaças à Terra. Até agora, 6.000 deles estão mapeados
A Nasa deveria ficar de olho em quase todos os asteroides que ameaçam a Terra, mas não tem verba para isso, indica um relatório da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Embora tenha dado essa tarefa à agência espacial americana, o Congresso dos Estados Unidos nunca aprovou o financiamento para a construção dos telescópios necessários ao monitoramento de 90% das rochas espaciais com potencial de causar uma catástrofe caso atinjam a Terra. Elas deveriam ser identificadas até 2020.
A agência estima que cerca de 20 mil asteroides e cometas no Sistema Solar com mais de 140 metros de diâmetro sejam ameaças à Terra. Até agora, 6.000 deles estão mapeados.
No mês passado, os astrônomos foram surpreendidos pela colisão de um objeto de tamanho e origem desconhecidos com Júpiter. E filmes-catástrofe há anos alertam as pessoas sobre a ameaça dos chamados Neos (sigla em inglês para objetos próximos da Terra).
Ninguém olhando
Mas, quando se trata de fazer algo a respeito, diz a academia, “tem havido um esforço relativamente baixo do governo americano”. E o governo americano é praticamente o único que está fazendo algo.
A Nasa calculou que monitorar os asteroides como a lei exige demandaria US$ 800 milhões entre agora e 2020, com a construção de um sistema de observação em terra ou no espaço. Com US$ 300 milhões, já poderia encontrar a maior parte dos asteroides com mais de 305 metros de diâmetro. Mas até agora o dinheiro não veio.
E pode não vir nunca, disse John Logsdon, professor de política espacial da Universidade George Washington. “O programa é um pato manco”, disse. Não há nenhum grupo grande o bastante pressionando para que o dinheiro saia, afirmou.
Até agora, a Nasa já identificou cinco Neos que têm mais do que uma chance em 1 milhão de atingir o planeta e causar danos sérios. Os pedregulhos espaciais para os quais os astrônomos estão mais alerta são um asteroide de 131 metros que tem uma chance em 3.000 de atingir a Terra em 2048 e Apófis, uma rocha com o dobro desse tamanho que tem uma chance em 43 mil de cair sobre o planeta em 2036, 2037 ou 2069. (Associated Press)
Situação é pior ainda ao sul do equador
Enquanto cientistas dos EUA lutam para manter o monitoramento de asteroides no céu do hemisfério Norte, no hemisfério Sul a situação é bem mais precária, diz uma astrônoma brasileira que se dedica ao tema.
“Existe um projeto de varredura do céu na Austrália [no Observatório de Siding Spring], que está sendo desativado agora; é o único que estava efetivamente monitorando o hemisfério Sul”, diz Daniela Lazzaro, do Observatório Nacional, no Rio.
A única iniciativa que existe agora no céu abaixo do equador é um telescópio do Uruguai, no Observatório Los Molinos, que não é tão bom para descobrir novos objetos -é usado mais para acompanhar cometas e asteroides já descobertos.
“A maioria dos objetos que são descobertos no hemisfério Norte se perde no céu do Sul, porque não tem ninguém para prosseguir com a observação”, diz Lazzaro, coordenadora da assembleia da União Astronômica Internacional, que ocorre no Rio.
A pesquisadora tenta agora resolver trâmites burocráticos para instalar um telescópio alemão em Motoxó (PE), o Impacton, de um metro de largura. O projeto será dedicado apenas ao acompanhamento de asteroides.
“Era para o telescópio já estar funcionando”, diz a cientista. “Foram abertas concorrências para as quais ninguém se candidatou. Mas, quando as obras começarem, em dois meses o telescópio estará operando.” (Rafael Garcia)
(Folha de SP, 13/8)
Fonte: Jornal da Ciência 3826, 13 de agosto de 2009.