Colisão na Lua

12 de junho de 2009 - 06:41

Nave japonesa se lança nesta quarta-feira contra satélite

Uma espetacular colisão contra a Lua. É dessa forma que a nave não tripulada japonesa Kaguya concluirá amanhã sua missão de quase dois anos em órbita do satélite terrestre.

O choque é programado e tem um objetivo: levantar uma nuvem de poeira para que os cientistas possam observar com mais facilidade as partículas lunares. Os especialistas querem estudar também o local do impacto para observarem como a radiação e os meteoritos afetam a parte recém-exposta do solo.

Para a Lua, será mais uma em sua imensa coleção de crateras. Lançada em setembro de 2007 pela Agência Espacial do Japão, a missão Kaguya (nome de uma princesa que vai à Lua numa lenda japonesa) buscava novas informações sobre a formação e a evolução da Lua por meio do estudo de sua composição, campo gravitacional e características da superfície. Do ponto de vista político, foi uma resposta do Japão às ambições espaciais de China e Índia, lançando uma verdadeira corrida espacial na Ásia.

Calor e luz intensos na hora do choque

A Kaguya lançou duas sondas menores quando atingiu a órbita lunar. Elas permitiram à missão enviar à Terra informações ao mesmo tempo em que explorava o lado mais distante da Lua e media anomalias em seu campo gravitacional. A missão obteve o primeiro mapa gravitacional lunar.

Como outras missões lunares — entre elas a Chang 1, da China, e a SMART-1, da Europa —, a Kaguya terminará sua jornada num violento impacto com a superfície lunar. Há uma grande chance de a Kaguya quicar na superfície, como uma pedra lançada na água. Da Terra será praticamente impossível de observar tal movimento.

Mas os pesquisadores esperam ver a nuvem de poeira levantada pelo impacto num contraluz formado pelo Sol, que a tornará ainda mais facilmente visível. A experiência foi bem sucedida no caso da SMART -1 europeia, que se chocou com a Lua em 2006.

Os espectadores esperam ver também um rápido flash quando parte da energia cinética do satélite, que estará viajando a 6 mil quilômetros por hora, for convertida em calor e luz no momento da colisão.

— É o show final para os japoneses — afirmou Shin-ichi Sobue, pesquisador e porta-voz da missão Kaguya.

Segundo Bernard Foing, cientista da missão SMART-1, há muito a aprender nesses choques.

— O impacto é o destino de todo satélite desse tipo — afirmou o especialista em entrevista à “New Scientist”. — Tentamos torná-lo útil, transformando-o em uma oportunidade de pesquisa.

Peter Schultz, um especialista em impactos lunares da Brown University, também ouvido pela “New Scientist”, concorda com o colega. Dependendo do local do impacto, a colisão pode expor solo virgem às duras condições ambientais do espaço e os cientistas poderão observar tal impacto em tempo real.

— Será como ver uma ferida aberta sendo cicatrizada — comparou Schultz.
(O Globo, 9/6)

 

Fonte: Jornal da Ciência 3779, 09 de junho de 2009.